Por Gabriela Almeida *
O cineasta sueco Ingmar Bergman, diretor de cerca de 70 obras audiovisuais, entre filmes de ficção, documentários e telefilmes de curta e longa-metragem, materializa como poucos a figura do autor no cinema. Nome monumental para a história da sétima arte no século 20, Bergman completaria cem anos neste 2018, e seu centenário tem sido motivo de comemorações por todo o mundo, com eventos de diversas naturezas, desde mostras de filmes e seminários, até a criação de espetáculos como A Bergman Affair, baseado em texto oriundo do livro Confissões, escrito por Bergman e publicado originalmente em 1996.
Ainda que a crítica e a teoria do cinema considerem injusto e reducionista associar a vasta obra de Bergman exclusivamente a características como a criação de personagens com dificuldades afetivas e fragilidade psicológica, foi dessa forma que o cineasta se cristalizou como cânone para o cinema. É fato que são componentes centrais do seu conjunto de interesses – embora não os únicos – a exploração do realismo psicológico e da densidade das personagens (especialmente as femininas), além da religião como importante modulador da relação dos indivíduos com o mundo. Esses aspectos temáticos costumam ser agenciados, em suas obras, a partir de uma mise-en-scène com fortes componentes teatrais.
Entre seus filmes mais conhecidos, estão obras-primas como O Sétimo Selo e Morangos Silvestres, ambos de 1957, Luz de Inverno, de 1963, Persona - Quando Duas Mulheres Pecam, de 1966, Gritos e Sussuros, de 1972 e Fanny & Alexander, de 1982, que marca a passagem de Bergman do cinema para uma produção exclusivamente televisiva. Ao mesmo tempo em que manteve, ao longo de pelo menos três décadas, uma média de dois filmes lançados a cada ano, Bergman teve também uma prolífica produção como escritor.
Além de assinar os roteiros da maioria dos seus filmes, foi autor também textos para o teatro. Fez ainda a direção de dezenas de espetáculos e foi diretor do teatro municipal da cidade sueca de Malmö, do Royal Dramatic Theatre de Estocolmo e do Residenz Theatre de Munique, na Alemanha. Mesmo que Bergman seja mais lembrado pelo público pelo seu trabalho como cineasta, é importante pontuar que seus interesses, de forma mais ampla, se situam em torno das artes da cena.
O espetáculo francês A Bergman Affair tem direção de Serge Nicolaï e é protagonizado por Olivia Corsini, casal conhecido do público brasileiro em função de sua participação no filme Olmo e a Gaivota, dirigido por Petra Costa e Lea Glob. O livro Confissões, que deu origem ao texto da peça, foi adaptado para o cinema sob direção da norueguesa Liv Ullmann, com o título de Confissões Privadas, e exibido em 1997 no Festival de Cannes. Uma das colaboradoras mais constantes de Bergman, Ullmann atuou como atriz em 10 filmes do cineasta e manteve com ele também uma parceria de vida. Os dois foram casados durante a década de 1960 e mantiveram contato próximo até a morte de Bergman, que faleceu em 2007, aos 89 anos.
Um dos espetáculos integrantes da programação do 25º Porto Alegre, A Bergman Affair será apresentado nesta quarta (12) e quinta (13), às 21h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307). A montagem combina diversas formas de expressão, como teatro, dança e vídeo e tem como personagem principal uma mulher adúltera angustiada – porém não arrependida – que procura no contato com um pastor um espaço para confissão e uma escuta possível.
* Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, professora e coordenadora do curso de Comunicação Social da ULBRA, pesquisadora de cinema e autora do livro O Ensaio Fílmico ou o Cinema à Deriva