Uma matriarca impõe a suas cinco filhas um rígido luto de oito anos após a morte de seu segundo marido. Aprisionadas na atmosfera sufocante de uma casa habitada apenas por mulheres, que incluem a avó e as criadas, as jovens entre 20 e 39 anos exibirão diferentes formas de lidar com a situação.
Escrita por Federico García Lorca (1898 – 1936) em 1936, mesmo ano em que foi assassinado pelas forças nacionalistas de Francisco Franco no início da Guerra Civil Espanhola, A Casa de Bernarda Alba alude à vida sob ditadura e também à opressão sofrida pelas mulheres. A peça tem, inclusive, um subtítulo: Drama de Mulheres nos Povoados da Espanha.
Esse segundo aspecto será sublinhado na montagem gaúcha que estreia nesta quinta (2/11), sob direção de Graça Nunes e direção coreográfica de Carlota Albuquerque. Com o título abreviado para Bernarda, o texto será representado de quintas a domingos, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), até o dia 12 de novembro.
A realização é do Grupo de Teatro Meráki, constituído para esse trabalho, envolvendo alunas e ex-alunas de Graça. É ela quem explica que a motivação foi falar não apenas sobre as mulheres do universo de Lorca, mas todas que são oprimidas pela “força coercitiva da religião e da cultura”:
– As mulheres ainda hoje vivem em um mundo de homens, sofrem com preconceitos, com a repressão sexual resultante de um moralismo falso e perverso. São agredidas, espancadas, estupradas e mortas sem despertar grande atenção e reação. Têm seus salários em disparidade com os dos homens e um lugar restrito no âmbito da sociedade.
Graça observa que não modificou o texto original de Lorca:
– Precisei fazer cortes, sem ferir a estrutura e o conteúdo do texto, com a finalidade de tornar o espetáculo mais curto, adequado à impaciência de um público moldado pela velocidade das mídias contemporâneas.
A montagem conta com Rosangela de Britto no papel de Bernarda. Suas filhas são vividas por Betha Medeiros (Angústias), Raquel Pilger (Madalena) Cissa Madalozzo (Amélia), Roberta Pochmann (Martírio) e Martina Fensterseifer (Adela). É Adela, a mais jovem, quem incorpora a revolta contra a ordem estabelecida, envolvendo-se com Pepe Romano, pretendente da irmã mais velha, Angústias. O conflito precipitará uma tragédia, como é característico no teatro de Lorca. Raquel, que interpreta Madalena, afirma:
– Lorca retratou, com sensibilidade e beleza, nossa sociedade tradicional, com forte vínculo religioso. Mexeu com tabus e desafiou ideias arraigadas.
O elenco também tem Aline Vargas, Cleia Bertinetti Bandeira, Elaine Segura e Ofélia Ferretjans, além da bailarina Angela Spiazzi e da cantora Gabrielle Fleck.
BERNARDA
Estreia nesta quinta (2/11). De quintas a domingos, às 20h30min. Até 12 de novembro.
Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), fone (51) 3289-8066, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30. Desconto de 50% para idosos, estudantes, classe artística, funcionários municipais de Porto Alegre e acompanhantes e professores da rede pública estadual.
Ponto de venda com taxa: site entreatosdivulga.com.br/bernarda. Ponto de venda sem taxa: bilheteria do teatro, uma hora antes de cada sessão.