Um casal discute entre si, pessoas atravessam a rua, um pai ensina um filho a fotografar com uma câmera analógica. Como estas e outras cenas cotidianas – e até banais – seriam examinadas no futuro? Um dos destaques do 12º Festival Palco Giratório Sesc/POA, o espetáculo Os Arqueólogos realiza um exercício de distanciamento sobre episódios corriqueiros da atualidade. As sessões são nesta terça (9/5) e quarta (10/5), às 21h, no Teatro Renascença.
O efeito de estranhamento é criado por meio de um curioso recurso: na primeira parte do espetáculo do Empório de Teatro Sortido (SP), dois sujeitos narram as cenas como se fossem eventos esportivos, conferindo-lhes um efeito espetacular. Na segunda parte, os arqueólogos do título observam as mesmas cenas. Todos os personagens são representados pelos atores Guilherme Magon e Vinicius Calderoni, este também o autor do texto. Calderoni ganhou, em 2016, o Prêmio Shell de São Paulo pela dramaturgia de Arrã. Na mesma ocasião, o diretor de Os Arqueólogos, Rafael Gomes, venceu na categoria de direção por Um Bonde Chamado Desejo.
Calderoni explica que os "arqueólogos do futuro" presentes na peça observam o ano de 2017 como costumamos olhar, por exemplo, para a Idade Média:
– Como na provocação tchekhoviana, trata-se de conjecturar o tipo de pensamento que terão de nós aqueles que vierem daqui a cem ou duzentos anos, um artifício dramatúrgico de distanciamento que ajuda a pensar as minúcias de nosso próprio tempo.
Sobre o recurso presente na primeira parte do espetáculo, o dramaturgo e ator identifica um paralelo entre a narração esportiva e a escrita teatral:
– O sentido que os narradores esportivos emprestam a uma partida de determinado esporte tem a ver com o próprio movimento de um dramaturgo na construção de uma narrativa, procurando a dimensão mítica de cada acontecimento.