
Em 2015, a Ânima Cia. de Dança apresentou mostras do processo de criação de seu novo espetáculo, Acuados, que aborda o tema da violência doméstica. Segundo Eva Schul, uma das mais experientes coreógrafas do país e responsável pela formação de gerações de profissionais da dança no Estado, a reação de quem assistiu foi de "choque".
– Às vezes, as pessoas estão alienadas desse tipo de questão. Com o episódio recente no Rio de Janeiro (o estupro coletivo de uma jovem de 16 anos), a questão voltou a ganhar evidência. Mas eu já vinha pensando sobre a violência contra a mulher há mais tempo, venho estudando a Lei Maria da Penha, que completa 10 anos em 2016.
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A estreia de Acuados nesta terça, às 20h, na Sala Álvaro Moreyra, marca também o aniversário de 25 anos da Cia. Ânima. A longevidade é motivo de comemoração, mas o espetáculo dispensa confetes para privilegiar uma reflexão séria sobre uma tragédia contemporânea, como explica Eva:
– Minha dança sempre foi de posicionamento sociopolítico e filosófico. Acuados coroa bem meu estilo de denúncia, uma dança que discute temas. Não é para os espectadores fugirem da realidade, mas para a encararem.
Assim, o desafio foi traduzir a questão da violência doméstica de forma que a estética dos movimentos dos bailarinos evidenciasse a agressão que os gestos representam. Em outras palavras, a questão era como abordar um tema árduo em um espetáculo que o público queira ver e rever.
Um dos recursos é a utilização de trilha sonora com árias de ópera cuja beleza contrasta com a agressão aludida em cena. Não deixa de ser uma denúncia da hipocrisia de casais que vivem de uma aparência de normalidade da porta para fora, enquanto, no refúgio do lar, a mulher é machucada física e/ou emocionalmente.
– Queremos questionar: que romance é esse de certos casais que cantam o amor, mas, entre quatro paredes, um dos lados dessa relação é humilhado e maltratado? – questiona Eva.
O elenco conta com os intérpretes criadores Driko Oliveira, Bianca Dias Weber, Emily Chagas, Everton Nunes, Fernanda Santos e Jackson Conceição. Serviu de base à criação uma pesquisa que incluiu a leitura de depoimentos de vítimas de violência e a busca de referências em imagens disponíveis na internet e no cinema. Também foram entrevistadas algumas mulheres que sofreram maus-tratos.
Com Acuados, Eva convida o público a experimentar o choque. E a esperar que a experiência sirva como um chamado para mudar a situação:
– O choque faz parte da experiência estética. O movimento está a serviço de uma questão, que é a denúncia da crueldade, e isso não é bonito.
No ano que vem, a Ânima pretende estrear uma releitura do espetáculo Na quina do tempo (2006), sobre a questão do tempo e como romper seus limites.
ACUADOS
Estreia nesta terça (14/6).
Às terças-feiras, às 20h. Temporada até dia 28.
Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), fone (51) 3289-8066, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30. À venda na bilheteria do teatro, uma hora antes das sessões.
Novas apresentações de 1º a 3 de julho, às 20h, na Sala 209 da Usina do Gasômetro (Avenida João Goulart, 551), fone (51) 3289-8100, com ingressos também a R$ 30, à venda uma hora antzhora.co/acuadoses.