O cineasta brasileiro Karim Aïnouz elevou a temperatura da mostra competitiva do Festival de Cannes com a estreia de Motel Destino nesta quarta-feira (22). Aïnouz, que também disputou a Palma de Ouro de Cannes em 2023 com Firebrand (2023), retornou ao Brasil para filmar um thriller erótico em um motel no nordeste do país.
Motel Destino recebeu uma recepção tão calorosa quanto a trama após a exibição. Em meio aos aplausos, que duraram 12 minutos, o protagonista Iago Xavier, ao lado da equipe, chegou a dançar brevemente ao som da música que embala os créditos finais da produção.
Na trama, Heraldo (Xavier) é um jovem que foge de uma quadrilha de criminosos e se refugia no motel que dá nome ao filme, em meio a quartos de cores berrantes e luzes de neon. Ali, ele conhece o casal que gerencia o local e se sente atraído pela mulher, Dayana (Nataly Rocha).
— Eu queria fazer um filme que fosse erótico, que fosse sensual, mas uma sensualidade que celebra a vida, não uma sensualidade que fala de morte. Era para mim muito importante, depois de tanto tempo que a gente passou sob o regime autoritário que a gente teve no Brasil, um regime de terror onde a verdadeira obsessão era a morte — disse o cineasta à AFP. — Queria fazer um filme onde a gente vai celebrar a vida. E eu acho que nada é mais vital que o sexo.
Aïnouz, o único latino-americano na disputa pela Palma de Ouro neste ano, é presença frequente no festival e foi premiado em 2019 na mostra Um Certo Olhar pelo filme A Vida Invisível.
Desta vez, ele concorre com filmes como Emilia Pérez, um musical ambientado no México dirigido pelo francês Jacques Audiard, e Tipos de Gentileza, do grego Yorgos Lanthimos.
O americano Sean Baker, conhecido por Projeto Flórida (2017), também contribuiu para elevar a temperatura em Cannes com Anora, a história de uma jovem trabalhadora sexual (Mikey Madison) que se casa com um herdeiro muito imaturo. De tom humorístico e sensível com todos os personagens, o filme provocou risadas e salvas de palmas.
O tema do sexo por dinheiro "pode ser explorado infinitamente", declarou à AFP Baker, que defende o direito das mulheres de vender o corpo, embora sempre com proteção.
Premiados
A três dias da cerimônia de premiação, começam a ser anunciados os prêmios das mostras paralelas. Simón de la Montaña (2024), primeiro longa-metragem do diretor argentino Federico Luis, venceu o grande prêmio da Semana da Crítica nesta quarta-feira. O filme narra a amizade que Simón (Lorenzo "Toto" Ferro) estabelece com um grupo de pessoas com deficiência intelectual em uma localidade dos Andes, para a surpresa de seus pais.
Esta conquista chega dias após o cinema argentino se manifestar em Cannes contra a política ultraliberal do presidente Javier Milei.
A Semana da Crítica também concedeu o prêmio da Fundação Louis Roederer ao ator Ricardo Teodoro, um dos protagonistas do filme brasileiro Baby. Teodoro interpreta um homem mais maduro que se relaciona com um jovem de 21 anos, mostrando a vida da comunidade LGBT+ na cidade de São Paulo.
O português Miguel Gomes, por sua vez, optou por um tom solene nesta quarta com Grand Tour, a história trágica de um britânico que mora em Mianmar em 1917 e abandona a noiva no altar para fazer uma viagem caótica pela Ásia.
Filmado em preto e branco, o novo longa é uma narrativa complexa, ambientada na era colonial, mas que alterna entre cenas teatrais e imagens gravadas na atualidade. Gomes passeia com sua câmera por mercados tailandeses, templos birmaneses e restaurantes japoneses, para então apresentar planos com decorações interiores.
Gomes, que participa pela primeira vez de Cannes, ganhou fama com Tabu (2012), premiado no Festival de Berlim.
A apenas dois dias do fim da mostra competitiva, todas as expectativas estão voltadas para o iraniano Mohammad Rasoulof e o filme The Seed of the Sacred Fig, que será exibido nesta sexta-feira (24).
O cineasta, que fugiu de seu país após ser condenado a cinco anos de prisão e a receber chibatadas, apresentará o filme pessoalmente em Cannes, confirmou a organização do festival na terça-feira.
Rasoulof, 51 anos, retornará à Croisette pela primeira vez desde 2017, quando foi premiado na mostra Um Certo Olhar por A Man of Integrity. Seu novo trabalho cinematográfico narra a história de um juiz iraniano que enfrenta uma paranoia e começa a suspeitar da própria esposa e filhas durante os protestos em Teerã, segundo um comunicado distribuído pela organização do festival.
O diretor anunciou na semana passada que fugiu do país de forma clandestina, a pé, uma viagem que descreveu como "exaustiva e perigosa". Entre julho de 2022 e fevereiro de 2023, Rasoulof permaneceu preso e saiu graças a uma anistia geral concedida a milhares de pessoas após grandes manifestações pró-democracia.