Os atores em greve e os responsáveis pelos estúdios de Hollywood suspenderam suas negociações na quarta-feira (11), comprometendo as esperanças de uma rápida retomada da produção de filmes e séries após meses de paralisação.
Representados pela Associação de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), as principais autoridades dos estúdios e plataformas como Disney e Netflix conversavam desde a semana passada com representantes do sindicato SAG-AFTRA, que defende os interesses de 160 mil atores, dublês, dançarinos e outros profissionais do audiovisual, em greve desde julho. O diálogo, porém, foi interrompido, conforme anunciaram ambos os lados em comunicados.
"Após discussões sérias, ficou claro que a distância entre as posições da AMPTP e as da SAG-AFTRA é grande demais, e essas discussões não nos levam mais a um progresso frutífero", disseram os estúdios. A AMPTP acusou os atores de terem exigências excessivas, incluindo uma divisão dos lucros provenientes da distribuição de obras em plataformas de streaming que "sozinha, custaria mais de US$ 800 milhões (cerca de R$ 4 bilhões) por ano".
Denunciando "táticas de intimidação", o sindicato de atores responsabilizou imediatamente os estúdios por "espalhar informações enganosas" sobre a proposta apresentada durante as negociações, exagerando seu custo em 60%. "De nossa parte, fizemos concessões significativas, transformando completamente nossa proposta de divisão de lucros: custaria às empresas menos de 57 centavos por assinante a cada ano. Eles rejeitaram a proposta", informou a SAG-AFTRA em seu comunicado.
Diferente da greve dos roteiristas
No mês passado, os estúdios e plataformas de streaming chegaram a um acordo salarial com outro sindicato, o dos roteiristas de Hollywood, que pôs fim a uma greve de quase cinco meses. Dada a semelhança entre as demandas dos atores e as dos roteiristas, o otimismo sobre a possibilidade de um acordo rápido parecia condizer com a realidade, o que não se concretizou.
Embora os roteiristas tenham voltado ao trabalho, a maioria das produções não poderá ser retomada enquanto a greve dos atores continuar. Assim como os roteiristas, os atores pararam de trabalhar para pedir, em particular, um aumento em sua remuneração, que na era do streaming despencou, e medidas de proteção contra a inteligência artificial (IA).
Em teoria, o acordo entre os estúdios e os roteiristas deveria ajudar os atores a imitá-los, afirmam analistas. Mas as exigências salariais e de garantias diante da IA da SAG-AFTRA vão além das de seus colegas roteiristas.
Exigem, especialmente, um maior aumento salarial e receber uma porcentagem dos lucros quando uma série é bem-sucedida, em vez de um simples bônus. Além disso, os atores temem que a IA seja usada para clonar sua voz e sua imagem, sem seu consentimento e sem remuneração.