Um concerto da Orquestra Sinfônica de Gramado, na Rua Coberta, bem em frente ao Palácio dos Festivais, abriu oficialmente a 50ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na tarde desta sexta-feira (12). Depois do tradicional tema composto por Geraldo Flach (1945-2011), os músicos regidos pelo maestro Bernardo Grings interpretaram uma série de obras que marcaram a história do cinema nacional e também da TV brasileira.
A começar por Adios, Nonino, do argentino Astor Piazzolla, utilizada em Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor, o primeiro vencedor do Kikito de melhor filme, em janeiro de 1973 – foi só a partir da década de 1990 que Gramado firmou o inverno como a estação para celebrar o cinema, após várias edições no verão e no outono.
O repertório incluiu Modinha para Gabriela (1975), canção de Dorival Caymmi famosa na voz de Gal Costa, tema de abertura da clássica novela Gabriela; Eduardo e Mônica, sucesso da banda Legião Urbana que inspirou o filme homônimo lançado em janeiro de 2022; e Bete Balanço, música do Barão Vermelho escrita para o longa-metragem de mesmo nome (1984).
Com programação até o dia 20 de agosto, quando ocorre a noite de entrega dos Kikitos, esta é a primeira edição presencial do festival desde 2019. Por causa da pandemia, o evento foi totalmente virtual em 2020 e em 2021.
Pode-se dizer que a cidade estava com saudade da muvuca cinematográfica. Desde o início da tarde, o público perfilou-se nos corredores que ladeiam o tapete vermelho, onde acomodaram-se autoridades, como o governador Ranolfo Vieira Júnior, convidados e jornalistas para assistir ao concerto. Pelas ruas e calçadas, a habitual salada de sotaques e idiomas desta vez vinha acompanhada, aqui e ali, por crachás que identificavam integrantes das produções cinematográficas (além de membros da imprensa). Entre os longas-metragens, curtas e documentários em competição, há obras de 11 Estados (Rio Grande do Sul, Acre, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe), além do Distrito Federal, e coproduções que envolvem oito países: Argentina, Chile, Espanha, França, México, Peru, Portugal e Uruguai.
À noite, entre os primeiros filmes que seriam exibidos no Palácio dos Festivais, estava La Pampa, de Dorian Fernández-Moris. Tendo como cenário a Amazônia peruana, a trama entrelaça as jornadas de um ex-funcionário público, que foge da justiça e da tragédia que marcou sua vida, e de uma adolescente, que foge dos abusos morais e sexuais que sofre desde menina em uma região controlada pela máfia da mineração do ouro.
Neste sábado, logo depois da sessão de O Clube dos Anjos (RJ), versão de Angelo Defanti para o romance escrito por Luis Fernando Verissimo, haverá a homenagem a Marcos Palmeira, ganhador do troféu Oscarito, a maior honraria do Festival de Gramado. Quando subir ao palco do Palácio dos Festivais, o ator que interpreta José Leôncio na novela Pantanal vai inscrever seu nome em uma lista que inclui Grande Otelo (homenageado na estreia da distinção, em 1990), Anselmo Duarte (diretor de O Pagador de Promessas, Palma de Ouro no Festival de Cannes), o casal Glória Menezes e Tarcísio Meira, Fernanda Montenegro e Sônia Braga e Marco Nanini.
Prestes a completar 59 anos, no dia 19, o carioca Palmeira tem uma ligação especial com o Rio Grande do Sul. Foi no Festival de Gramado que recebeu seus primeiros prêmios, o de ator coadjuvante por Dedé Mamata (1988) e o de melhor ator por Barrela: Escola de Crimes (1990). Em 2015, participou da homenagem a seu pai, o cineasta Zelito Viana, que recebia o Troféu Eduardo Abelin. E foi por Anahy de las Misiones (1997), épico de Sérgio Silva ambientado durante a Revolução Farroupilha, que faturou o Candango no Festival de Brasília.