Arnaldo Jabor, falecido nesta terça-feira (15), vítima de complicações de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido em dezembro do ano passado, antes de se tornar um rosto conhecido por seus comentários variados e sagazes em telejornais, já havia cravado o seu nome no cinema nacional.
O cineasta fez parte da geração do Cinema Novo, assinando obras da segunda fase do movimento conhecido por retratar questões políticas e sociais do Brasil. E, entre seus sucessos, estão adaptações de obras de Nelson Rodrigues e roteiros de inspiração autobiográfica, sempre com acidez e sensualidade.
Além de seus sucessos eternos das décadas passadas, Jabor ainda tem um filme inédito a ser lançado, mas sem data definida: Meu Último Desejo. A produção é baseada no conto O Livro dos Panegíricos, do escritor Rubem Fonseca, e narra a história de um ex-político influente com planos de delatar os crimes de seus velhos aliados e que, por isso, se torna alvo de uma conspiração.
Enquanto a última obra do diretor não é lançada, vale relembrar (ou conhecer) outros trabalhos do cineasta que estão disponíveis para aluguel nas plataformas digitais.
A Opinião Pública (1967)
A estreia de Arnaldo Jabor em longas-metragens foi no comando deste documentário, que está completando 55 anos. A produção, que foi realizada dentro das regras do cinema-verdade, com depoimentos espontâneos e takes quase que totalmente crus, explorava a classe média carioca, examinada através das opiniões de seus próprios membros, em plena ditadura militar.
Segundo o próprio cineasta, em entrevista ao livro Arnaldo Jabor: 40 Anos de Opinião Pública, de Eduardo Ades e Mariana Kaufman, o seu primeiro trabalho é um filme de puro teor antropológico. Gravando depoimentos de pessoas de diversos setores da classe média urbana, sejam jovens, mulheres, empresários ou senhores de idade, o cineasta conseguiu uma boa dose de ironia e mostrou que a maior preocupação daquela fatia da sociedade era com a economia.
Onde assistir: Net Now e Vivo Play.
Toda Nudez Será Castigada (1973)
O primeiro grande sucesso de Jabor foi essa adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues. O filme observa as hipocrisias da família tradicional brasileira através da história de Herculano (Paulo Porto), um viúvo conservador que se apaixona pela prostituta Geni (Darlene Glória). E, após decidir se casar com ela, ele precisa enfrentar uma série de conflitos na família.
Censurado à época de seu lançamento pela ditadura militar, o longa venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim, além de dois Kikitos no Festival de Cinema de Gramado, incluindo melhor filme. Em 2015, a obra entrou para a lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Onde assistir: Net Now.
Tudo Bem (1978)
Produção que marca o início da chamada Trilogia do Apartamento é um dos filmes mais célebres da carreira de Jabor. O longa investiga, entre sátira e ironia, as contradições da sociedade brasileira já vitimada pelo fracasso do milagre econômico. Na trama, Juarez (Paulo Gracindo) é um aposentado chefe de família de classe média que está sempre cercado pelos fantasmas de seus amigos já falecidos. Já Elvira (Fernanda Montenegro), sua esposa, fica revoltada com a impotência de Juarez, o que faz com que acredite que ele tenha uma amante.
Vivendo com dois filhos e empregadas em um apartamento sendo reformado, os dois precisam lidar com as dificuldades da vida e os operários da obra, que estão sempre no local. A obra ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília e, assim como Toda Nudez Será Castigada, entrou na lista da Abraccine como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
Onde assistir: Net Now e Vivo Play.
A Suprema Felicidade (2010)
Outros filmes consagrados de Jabor poderiam entrar na lista, como Eu Sei Que Vou te Amar (1986) e Eu Te Amo (1981), além de O Casamento (1975), outra adaptação da obra de Nelson Rodrigues, mas A Suprema Felicidade merece estar presente por marcar justamente o retorno do cineasta aos longas-metragens, mais de duas décadas depois de seu último trabalho no formato.
O filme, estrelado por Marco Nanini e grande elenco, foi descrito pelo próprio cineasta como seu Amarcord, em referência ao clássico de Federico Fellini, e é um retorno à própria infância de Jabor. Apesar de não ter tido uma boa recepção pela crítica, o longa serve para observar como foi o retorno do cineasta à direção e, também, como são as memórias da juventude do mesmo.
Onde assistir: YouTube, Net Now e iTunes.