O Cine Grand Café abre as portas nesta quarta-feira (24) no Centro Comercial Nova Olaria, em Porto Alegre. A primeira sessão ocorre às 19h, com a pré-estreia de Deserto Particular, longa de Aly Muritiba indicado pelo Brasil para tentar uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional.
A partir de quinta (25), o público poderá conferir a programação completa do novo cinema, que terá curadoria do jornalista Roger Lerina. Crítico integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e comentarista do Canal Brasil, ele foi colunista de Cultura e Entretenimento por 18 anos em Zero Hora, além de apresentador do Programa do Roger, na TV Com, entre 2011 e 2015. Hoje, mantém um site que leva seu nome, vinculado ao grupo Matinal Jornalismo.
O convite para o cargo partiu de Henrique de Freitas Lima, cineasta e advogado que está assessorando o projeto do cinema. Em sua curadoria, Roger pretende manter a essência do que sempre foi o Guion Center, que funcionava no espaço, mas também promover abertura aos filmes comerciais e brasileiros.
A seguir, ele fala mais sobre o trabalho que irá desenvolver. Confira:
É seu primeiro trabalho como programador de um cinema?
É a primeira vez. Tenho trabalhado com seleção e curadoria na área de música e artes em geral. Desde 2019, faço parte da curadoria da Noite dos Museus. Fui curador durante dois anos do Festival Internacional de Cinema da Fronteira, de Bagé. Mas nunca fiz programação de cinema. É um desafio.
Como se sente com esse desafio?
Estou empolgado e, ao mesmo tempo, assustado. É tudo novo. Por mais que eu tenha familiaridade com cinema, é outra coisa. São três salas e tu tens que organizar horários, ter uma certa linha de trabalho e de seleção de filmes. Tens que atender às demandas do mercado, às disponibilidades e pressões dos distribuidores. Todos querem que seus filmes estreiem, só que não há telas suficientes para todos os longas. Há sempre uma negociação. Mas é bacana porque é um assunto que me encanta e empolga.
Que tipo de programação pretende trabalhar no Grand Café? Seguirá a linha do Guion?
Nós vamos seguir sem dúvida a linha do Guion. Foram 26 anos mostrando cinema independente, mais alternativo, filmes de cinematografias que não são as mais usuais, que não encontram espaço no circuito mais convencional. Mas isso não quer dizer que a gente não vá passar filmes de Hollywood ou com perfil comercial. Nesta semana, vamos abrir com Casa Gucci, do Ridley Scott. Dentro dessa perspectiva, faremos uma seleção de filmes de Hollywood que tenham qualidade. Não serão destoantes em relação aos outros filmes que exibimos. Particularmente, não tenho nada contra o cinema mais comercial. A combinação entre cinema comercial e o mais independente é bem-vinda, até pela nossa sustentação econômica. E sempre tem coisas interessantes no dito cinema comercial.
Também vamos dar uma ênfase a algo que não vinha tendo tanto espaço no Guion, que é o cinema brasileiro. Queremos que a produção nacional esteja sempre em cartaz. Tanto que a pré-estreia de abertura do cinema (nesta quarta) é com Deserto Particular, que o Brasil escolheu para ser seu represente para concorrer a uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Queremos que o Grand Café seja um espaço de muitas expressões e debates, queremos fazer pré-estreias comentadas, fazer lançamentos de livros, teremos uma galeria de arte. Potencializá-lo como um ponto de cultura.
Deserto Particular será o primeiro longa exibido pelo Grand Café. O que você destacaria do filme?
É um filme do Aly Muritiba, que é um dos realizadores mais prolíficos do cinema brasileiro dos últimos tempos, com trabalhos vigorosos. Além de filmes, tem feito séries para streaming. É um cara muito inquieto. Com Deserto Particular, ele se firma como uma grande expressão do novo cinema brasileiro. Ele tem uma marca autoral, tem um cinema de reflexão, com preocupações sociais e estéticas. Não é necessariamente um cinema comercial, mas também não é um filme que vira as costas para o público. É um filme que busca dialogar com as plateias. É uma boa forma da gente começar os trabalhos no Grand Café. Não deixa de ser uma espécie de declaração de princípios do que a gente quer fazer. Vai bem ao encontro do público do Guion, que a gente quer que volte ao cinema.
Os festivais e ciclos também estarão na programação?
Já vamos começar abrigando uma mostra. Queremos nos articular com circuitos que tenham a nossa cara, estabelecer esse diálogo. Na largada, teremos uma sala ocupada pelo Festival Varilux de Cinema Francês, que traz filmes recentes da França e inéditos no Brasil. Vamos estar com uma intensa programação nessa sala, com quatro filmes por dia.