Algumas produções fincam o seu nome na história da cultura pop e, inegavelmente, Os Caça-Fantasmas fez isso em 1984. A aventura capitaneada por Bill Murray conseguiu angariar e fascinar uma legião de fãs e é facilmente identificada até hoje apenas com algumas notas de sua música-tema. E, claro, como todo sucesso, uma continuação tem que acontecer. Cinco anos depois, Os Caça-Fantasmas 2 chegou aos cinemas, sem o charme do original, mas ainda assim oferecendo uma boa diversão.
Por isso, os fãs nunca deixaram de pedir uma terceira parte da aventura, reunindo o elenco original, na ânsia de recuperar aquela mesma energia ectoplásmica que envolveu o lançamento do primeiro longa. Essa sequência, no entanto, virou um grande rumor. Nunca conseguia ver a luz do dia, até que, em 2016, um reboot foi realizado, com um elenco majoritariamente feminino e com o pé mais na comédia. Não funcionou. O resultado foi decepcionante junto ao público, que rejeitou a produção.
Mas a franquia, assim como os seres que os protagonistas enfrentam, não aceitou a morte cinco anos atrás e, agora, retorna do além diretamente para os cinemas (a estreia é nesta quinta-feira, 18) com uma nova aventura, Ghostbusters: Mais Além — dentro do processo da indústria cinematográfica de padronizar os títulos de franquias famosas, chamando-as pelo nome original. Desta vez, porém, acerta a mão em apresentar a saga para uma nova geração e, ao mesmo tempo, sem deixar de lado os fãs que ansiavam por uma retomada do clássico oitentista. Jason Reitman foi chamado para assumir a cadeira de diretor, posto que foi de seu pai, Ivan Reitman, nas duas primeiras produções dos caçadores de fantasmas.
Na trama, Calle (Carrie Coon), mãe solteira e falida, está prestes a ser despejada de casa juntamente com seus dois filhos, Phoebe (Mckenna Grace) e Trevor (Finn Wolfhard, de Stranger Things). Eis que ela recebe uma casa como herança de seu falecido pai, com quem não tinha contato. Sem alternativas, ela resolve se mudar com a família para a residência, que fica em uma pequena cidade do interior chamada Summerville. Ao chegar no local, porém, eles vão descobrindo que o patriarca também deixou para trás um mistério a ser resolvido. E, com eventos cada vez mais paranormais tomando conta do pacato lugar, os Caça-Fantasmas precisam agir. Nem que, para isso, os jovens e forasteiros irmãos precisem assumir este posto.
Passado e presente
Sendo uma continuação dos eventos ocorridos nos dois primeiros Os Caça-Fantasmas, Ghostbusters: Mais Além consegue apresentar para a nova geração a história que ocorreu nos anos 1980 por meio de vídeos na internet assistidos pelos personagens da nova aventura. E, com isso, fica estabelecido que Nova York já foi invadida por seres paranormais há quase 40 anos, mas, felizmente, foi salva por heróis especialistas no além-vida. No entanto, com o passar dos anos, os acontecimentos foram caindo no esquecimento, afinal, o mundo já estava seguro novamente.
E esta explicação se encaixa perfeitamente dentro da história, principalmente quando as criaturas sobrenaturais começam a reaparecer, mas as pessoas não acreditam — afinal, como diz o ditado, quem se esquece dos erros do passado está fadado a repeti-los no futuro. Por isso, cabe aos irmãos Trevor e Phoebe, juntamente com o hilário Podcast (Logan Kim), Lucky (Celeste O'Connor) e o professor Sr. Grooberson (Paul Rudd, o Homem-Formiga), desvendar o que está acontecendo em Summerville e, assim, salvar o mundo. Vale destacar que todo o elenco está ótimo em cena, com destaque para a adolescente Mckenna Grace, que segura o protagonismo com louvor, mesmo que o peso seja maior que o de uma mochila de prótons.
Assim, Jason Reitman, que escreveu o roteiro ao lado de Gil Kenan (diretor de A Casa Monstro), entrega não apenas uma aventura original e com humor na dose certa, mas também consegue inserir diversas referências aos dois primeiros filmes da franquia de maneira orgânica. Embarcado novamente no icônico veículo Ecto-1, o longa traz de volta as fantasmagóricas criaturas dos anos 1980, incluindo os animatronics que tanto fizeram pelo cinema de ficção científica naquela época, mas que foram sendo substituídos pelos efeitos em computação gráfica — também presentes no longa, formando uma mistura única, que não deixa o filme "tosco" para os jovens, mas ainda assim traz a magia do passado.
Fora os easter-eggs, Ghostbusters: Mais Além é carregado de surpresas que podem até arrancar algumas lágrimas dos fãs mais emotivos, mas, para preservar a experiência do espectador, diversos pontos importantíssimos da trama foram omitidos deste texto — da mesma forma que a Sony evitou informá-los em seu material promocional, mesmo que isso pudesse ajudar na divulgação do filme. O que pode ser dito é que a história equilibra com destreza o passado e o presente, incluindo uma linda homenagem a Harold Ramis (um dos Caça-Fantasmas originais, falecido em 2014), mas sem deixar de preparar o terreno para um futuro promissor e com a bênção dos Caça-Fantasmas originais. Afinal, sempre que precisar deles, é só chamar.