Em ritmo frenético, com pouco humor e com uma certa frieza: a 93ª edição do Oscar foi bastante distinta ao que a premiação vinha sendo nos últimos anos. Por conta da pandemia, a cerimônia deste ano teve palco em diferentes partes do mundo: Sidney, Londres, Seul, entre outros. Mas estava concentrada essencialmente na Union Station, uma estação de trem desativada em Los Angeles, com restrição de 170 pessoas presentes. Desde 2002, a premiação era sediada no Teatro Dolby, mas por lá só foram realizadas algumas gravações.
A intenção da Academia é limitar ao máximo as participações pela internet, que geraram críticas e decepção em outras cerimônias prejudicadas pela pandemia, como o Globo de Ouro. Ou seja: não queriam ninguém em vídeo chamada vestindo pijama.
Os participantes do Oscar 2021 não precisaram usar máscara durante a transmissão da premiação, embora a Academia solicitasse que a plateia utilizasse o acessório quando a cerimônia não estivesse ao vivo.
Uma das principais modificações deste anos foi aplicada antes da cerimônia propriamente começar: as apresentações musicais dos concorrentes a melhor canção original fora exibidas antes da premiação, em vídeos previamente gravados, ainda no tapete vermelho. Tradicionalmente, essas performances são distribuídas ao longo da cerimônia.
Umas das mudanças mais significativas foi a distribuição dos prêmios: as categorias pareciam estar embaralhadas. Há alguns anos a cerimônia iniciava com um Oscar de atuação coadjuvante, mas este ano ano começou pelos roteiros. Melhor direção, que costuma ser a penúltima, teve sua estatueta entregue antes da metade do evento.
Melhor filme, principal categoria da noite, foi o antepenúltimo Oscar a ser distribuído. Tradicionalmente, era o prêmio que encerrava a cerimônia. Depois de Nomadland ser premiado, houve a entrega dos Oscar de melhor atriz e melhor ator — essa última categoria foi bastante anticlimática, pois o vencedor, Anthony Hopkins, não compareceu à premiação. O Oscar 2021 teve um desfecho confuso, abrupto e sem sal.
A festa do Oscar foi dirigida por Steven Soderbergh, que pretendia promover uma leveza em uma edição realizada após um 2020 com muitas perdas por causa da covid-19. Tanto que no momento In Memoriam (homenagem aos artistas que morreram no último ano), o clima foi de celebração com I'll Be Loving You Always, de Stevie Wonder. A ideia seria uma celebração da vida e do cinema.
Assim como em 2020, não houve um mestre de cerimônias principal na premiação. A festa começou com pequeno tropeço da atriz e diretora Regina King no palco, que abriu a apresentação. De cara, uma tradição já foi quebrada: não teve um monólogo de abertura tirando sarro dos indicados. Talvez não houvesse clima para isso após um ano difícil, porém era o indicativo que o tom de frieza seria predominante na premiação.
Steven Soderbergh também derrubou outra tradição do Oscar: costumeiramente, quando um premiado começa a palestrar mais que o necessário, excedendo o tempo, uma orquestra invade o discurso de agradecimento. Não teve isso este ano. Soderbergh queria que os contemplados contassem histórias, sem se preocupar com o tempo.
De qualquer maneira, não houve discursos que tenham se estendido. Quem aproveitou bem o momento foi o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, que dedicou a vitória à sua filha Ida, que morreu jovem pouco antes das filmagens de Druk — Mais uma Rodada. Um dos momentos mais tocantes da noite.
Um dos momentos mais divertidos da noite foi protagonizado pela atriz sul-coreana Yuh-Jung Youn, que venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação em Minari. Seu discurso foi bastante espirituoso. Ela chegou a brincar com a própria vitória, arrancando risadas da plateia:
— Tive mais sorte, talvez? Talvez houve hospitalidade americana pra uma atriz coreana.
Em seu discurso ao receber a estatueta de melhor ator coadjuvante, Daniel Kaluuya propiciou aquela constrangida para mãe e irmã (esta escondeu a face entre as mãos) presentes na cerimônia:
— Agradeço muito minha mãe. Ela transou um dia com meu pai um dia e por isso estou aqui. Vamos celebrar!
Já Frances McDormand chegou a uivar durante o agradecimento de melhor filme, vencido por Nomadland.
Mas não foi muito além disso: o Oscar 2021 teve um ritmo frenético, saltando de uma premiação a outra. Não se teve muito espaço para extroversão. Houve uma tentativa de questionário com a plateia sobre as músicas que concorreram ao Oscar, mas foi um momento arrastado. Só serviu para a atriz Glenn Close brilhar dançando e rebolando.
Talvez não se possa exigir muito de uma cerimônia em um ano com pandemia. Mas, no geral, foi evento frio e estranho. A fragmentação de palcos e a falta de carisma nos textos tornaram a cerimônia bastante fria e insossa. Foi uma distância que transcendia o espaço físico. Faltou aquele calor. Quem sabe volte ano que vem.