Chegando a sua 17ª edição, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa) tem início nesta sexta-feira (9), com programação que se estende até o dia 18 de abril. O evento, que se consolidou na agenda das principais atividades culturais da Capital, volta a ser realizado em plataforma digital pelo segundo ano consecutivo, por conta da pandemia. Novamente, a programação do festival é inteiramente gratuita.
Para assistir ao Fantaspoa, o espectador deve acessar ao site da plataforma Wurlak e fazer cadastro. Cada título da programação deste ano ficará disponível no serviço de streaming até atingir a marca de 3 mil visualizações. Outras informações podem ser conferidas no site oficial do festival.
A edição de 2021 do Fantaspoa foi viabilizada com recursos da Lei Aldir Blanc. No ano passado, o festival estava sem patrocínio e precisou recorrer a uma campanha de financiamento coletivo para garantir sua realização. O evento de 2020 havia sido pensado para ser realizado de forma presencial, mas, após ser surpreendido pela pandemia, o festival foi adaptado às pressas para o ambiente virtual. Neste ano, o Fantaspoa foi planejado desde o início para ser online.
— No ano passado, a gente fez o que dava no tempo que tinha. Em 2021, não. Conseguimos ter tempo para conceber um festival online. Criamos várias atividades para esta edição que não tinham no evento anterior (confira abaixo as atividades extras) — ressalta João Pedro Fleck, organizador do Fantaspoa ao lado de Nicolas Tonsho.
Desde o dia 23 de fevereiro, o Fantaspoa já promovia atividades de formação, todas acessíveis online gratuitamente. Nessas palestras e oficinas transmitidas em forma de lives, eram abordadas temáticas relacionadas ao cinema fantástico, ficando disponíveis até o final do evento nos canais de YouTube e Facebook do festival. Segundo Fleck, essa opção em promover as atividades antes do início da programação de filmes foi para não roubar o próprio público do evento.
— O tempo das pessoas é um só. Na pandemia, elas já passam muito tempo na frente de telas, mais do que nunca. Talvez quem quisesse ver um (filme ou atividade) poderia não ver o outro. Espaçamos as lives ao longo de sete semanas antes do festival, o que funcionou muito bem. Aumentou o público — assegura.
Fleck pondera que, mesmo que o Fantaspoa volte a ser presencial em 2022, como espera que seja, não crê que será apenas presencial. O organizador especula que, cada vez mais, a tendência é de uma versão híbrida do festival — online e presencial. Isso ocorreria tanto para as atividades quanto para a competição de curtas, se os diretores permitirem, até para aquecer um público de fora.
— Até 2019, o Fantaspoa era muito local. Mas, a partir do ano passado, com a edição online, o envolvimento das pessoas de fora do Estado foi muito grande — diz Fleck.
Programação
A 17ª edição do Fantaspoa conta com mais de 160 filmes, entre curtas e longas-metragens, provenientes de 40 países. Fleck conta que, para este ano, o festival recebeu inscrições de mais de 200 longas — dos quais 58 foram selecionados.
— Todos representam muito bem os gêneros do cinema fantástico: tem horror, fantasia, ficção científica, filmes bem oníricos. É uma programação com uma variedade que praticamente nenhum festival no Brasil tem — afirma o organizador.
Dos 58 longas do Fantaspoa, 55 estão divididos em mostras competitivas: Internacional, Ibero-americana e Animação. Já os curtas estão divididos em Nacionais, Internacionais Live-Action e Internacionais Animação. Dos 55 longas em competição, 10 são de 2019 e nove são de 2021 — o restante é de 2020. Há nove produções em première internacional (exibidas pela primeira vez fora de seus países de origem) e 26 que estreiam na América Latina.
Neste ano, o Fantaspoa conta com quatro estreias mundiais: O Grande Salto (Irã), Este Jogo se Chama Assassinato (EUA), Mister Limbo (EUA) e o documentário A Nau dos Loucos: Mergulho e Decolagem de Pazucus (Brasil) — este último faz parte da mostra especial de longas.
Além de A Nau dos Loucos, a mostra contará com o também documentário brasileiro A Selva da Claquete: Sobrevivendo no Cinema Independente e a versão reeditada do clássico do cinema amador nacional Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado, de Felipe M. Guerra. Rodado em VHS na Serra Gaúcha, o filme conta as desventuras de um grupo de jovens perseguido por um psicopata mascarado. A nova versão vem para marcar o aniversário de 20 anos do lançamento do longa e inclui cenas inéditas.
Entre os destaques deste ano, Fleck cita o longa francês Jumbo, da diretora Zoé Wittock. A programação de 2021 é composta, em mais de 40%, por obras dirigidas, roteirizadas, produzidas e/ou protagonizadas por mulheres. Estrelado por Noémie Merlant (Retrato de uma Jovem em Chamas), Jumbo conta a história de uma jovem que começa a trabalhar num parque de diversões onde um dos brinquedos se torna o amor de sua vida.
— É um filme que fiz questão de trazer, um dos meus favoritos deste ano. Tentamos exibi-lo em 2020, mas o pessoal estava receoso com festivais online. Felizmente, conseguimos para este ano. Nunca tinha visto nada parecido: a protagonista se apaixona por um brinquedo do parque. É uma obra-prima, classudo, superbem filmado — descreve o organizador.
Fleck cita também o longa holandês Marionete, que deve surpreender o público. Na trama, uma psiquiatra infantil, Marianne, se muda para a Escócia e passa a atender uma criança que faz desenhos de acidentes que se tornam realidade.
— Em muitos anos de Fantaspoa, eu não lembro de ter visto um plot twist tão bom em um filme. É surpreendente a maneira como ele consegue subverter toda a história que você estava assistindo até então —adianta.
Fleck ainda destaca, entre outros longas, a aventura americana Danger! Danger!, por ser um filme "com coração", que retoma a inocência dos anos 1980. Outro longa que o organizador e curador do festival menciona é Nas Sombras, produção turca que ele considera trabalhar bem o conceito de distopia.
Atividades extras
Riso da Medusa
Com curadoria de Samanta Flôor, a exposição é composta por trabalhos de 20 artistas mulheres, que criaram obras originais dialogando com o universo fantástico. A mostra ficará disponível até o dia 18 de abril e pode ser acessada pelo site www.risodamedusa.com.
Sessão musicada
O clássico expressionista A Morte Cansada (1921), de Fritz Lang, será exibido com uma trilha original composta e executada pelo grupo instrumental Quarto Sensorial. A atividade será disponibilizada no canal no YouTube do Festival. Será com dois vídeos: em um, será possível assistir ao filme com a trilha sonora gravada pela banda; em outro, consta o registro filmado da execução da trilha sonora pelo grupo. Assim, será possível visualizar simultaneamente os dois registros, numa simulação das sessões musicadas presenciais.
Festa online
A festa Fantaspoa Toda La Noche ocorrerá nesta sexta-feira (9), a partir das 21h, marcando o início do festival. Será gratuita e online via Zoom, promovendo também um concurso de fantasias. A festa contará com a presença dos DJs Carlinhos Carneiro, Roger Lerina, Arlise Cardoso, DJ Mely, Thales Speroni e DJoão. Também haverá uma seleção de músicas escolhida pelos diretores do festival, João Pedro Fleck e Nicolas Tonsho. Para participar da festa, o público deve acessar o site da Sympla.