A notícia de que a atriz israelense Gal Gadot fará o papel de Cleópatra gerou a mais recente controvérsia de "whitewashing" — termo que se refere ao embranquecimento de personagens de outras etnias — de Hollywood e renovou um debate histórico sobre a ancestralidade da antiga rainha do Egito.
Gadot, mais conhecida por encarnar no cinema a Mulher-Maravilha, está confirmada como produtora e estrela do novo épico cinematográfico da Paramount. Ela assumirá o papel que ficou famoso com Elizabeth Taylor no clássico de 1963, Cleópatra.
O filme biográfico vai recontar a "história pela primeira vez através dos olhos das mulheres, tanto atrás quanto na frente das câmeras", escreveu Gadot no Twitter. A diretora de Mulher-Maravilha (2017), Patty Jenkins, também fará parte da produção, assim como a roteirista de Ilha do Medo (2010), Laeta Kalogridis.
O anúncio, no entanto, imediatamente gerou críticas nas redes sociais sobre a escolha da atriz branca nascida em Israel para interpretar uma rainha africana.
"Hollywood sempre escala atrizes americanas brancas como a Rainha do Nilo. Pelo menos uma vez, eles não conseguem encontrar uma atriz africana?", tuitou o autor James Hall.
O furor traz à tona críticas mais amplas ao hábito de Hollywood de selecionar atores brancos para papéis não brancos, aparentemente com base na suposição de maior apelo de bilheteria, a prática que costuma ser chamada de "whitewashing". Porém, outros usuários das redes sociais rapidamente notaram que a própria Cleópatra — uma governante do século 1 a.C. descendente de Ptolomeu, general de Alexandre, o Grande — era de ascendência grega e pode ter sido branca.
"Incrivelmente animada para ter a chance de contar a história de Cleópatra, minha faraó ptolemaica favorita e indiscutivelmente a mulher greco-macedônia mais famosa da história", tuitou Kalogridis, que também será produtora executiva da obra e tem origem grega. A postagem foi retuitada por Gadot, que não fez comentários sobre o tema.
Outros acusaram a reação contra a escalação de Gadot de se apoiar em noções antissemitas. Vários usuários das redes chamaram atenção para o serviço obrigatório cumprido por Gadot nas forças armadas de Israel.
Essa não é a primeira vez que a atriz é alvo de críticas online. Em março, ela enfrentou diversos comentários negativos por estar à frente de uma montagem em vídeo de celebridades cantando Imagine, de John Lennon, em suas casas. O vídeo, destinado a dar esperança aos afetados pelo confinamento devido à covid-19, foi considerado desconectado com a vida das pessoas comuns.
Mulher-Maravilha 1984, o próximo filme de Gadot, deve chegar aos cinemas em dezembro, embora alguns analistas prevejam que sua data de lançamento possa ser alterada para o próximo ano, como ocorreu com diversos outros blockbusters.