Seria a imortalidade uma benção ou uma maldição? Um dos maiores fascínios da humanidade, a busca pela vida eterna é o pano de fundo para The Old Guard, filme que chega na Netflix nesta sexta-feira (10) com Charlize Theron no papel principal. A atriz encarna uma heroína, mercenária e imortal na trama baseada nas histórias em quadrinhos de Greg Rucka e Leandro Fernandez.
GaúchaZH assistiu ao longa-metragem antes da estreia. Um espetáculo de tiro, porrada e bomba toma conta da tela do telespectador durante as duas horas de duração. Porém, até mesmo quem não gosta de ação será envolvido pela trama misteriosa, que mescla passado e presente para contar a história de um grupo de imortais que, há séculos, usam seu dom para proteger a humanidade. Mas também precisam lidar com as incertezas do futuro.
E não é exagero quando usamos a palavra “séculos”: o filme mostra que o pequeno exército já lutou nas Cruzadas, nas guerras napoleônicas e na Primeira e Segunda guerras mundiais. Andy, personagem de Theron, é uma assassina voraz e líder do clã, composto por Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari), Nicky (Luca Marinelli) e a novata Nile (KiKi Layne), a mais nova imortal a ser recrutada.
Andando pelo mundo e lutando batalhas como anônimos, a identidade do grupo é revelada após caírem em uma armadilha, onde são filmados morrendo e voltando à vida ao estilo de personagens de desenhos animados que, mesmo atingidos por bigornas, levantam e saem caminhando normalmente.
— De uma certa maneira, The Old Guard é como um desenho dos Looney Tunes: dá para explodir os personagens, atropelá-los com um caminhão ou atirá-los de um penhasco que eles simplesmente seguem a vida — brincou o autor da HQ e roteirista do filme, Greg Rucka, em entrevista divulgada pela Netflix.
A história do filme acaba se desenvolvendo quando o dom da imortalidade desperta o interesse de um gestor da indústria farmacêutica, que sonha em elaborar um remédio que conceda a vida eterna à população - e ganhar muito dinheiro com isso.
Heróis bem reais
Tratados como heróis na trama, o grupo de imortais em nada lembra os personagens de histórias em quadrinhos habituais. Ao invés de capa, roupas coloridas e elaboradas, os integrantes da “velha guarda” (na tradução literal) abusam de jeans, regatas básicas e jaquetas de couro.
Apesar da imortalidade, não são vampiros: sentem dor, comem, bebem e dormem. Também não são bons nem maus. Escolhem de que lado ficar nas batalhas pelo que acham certo para o momento. E, ainda, possuem sentimentos: choram, sentem saudade e lamentam – bem ao estilo "gente como a gente".
— Queríamos fazer um filme de ação acelerado com esse frescor e originalidade, um título que não sacrificasse os sentimentos e a emoção da história. Por isso, nos propusemos a fazer um filme bem realista e dinâmico, com personagens e dilemas inéditos para o gênero — disse a atriz Charlize Theron, que também assina a produção.
Mulheres no comando
The Old Guard dá um show de representatividade ao colocar duas mulheres fortes no centro das atenções com perfis bem diferentes: Andy, mais cansada da vida agitada que já dura milhares de anos, e Nile, cheia de gás pela descoberta do novo dom. Características que conquistaram a diretora do filme, Gina Prince-Bythewood (Além dos Limites, Nos Bastidores da Fama).
— O roteiro chegou para mim num momento em que eu estava procurando um desafio maior e foi a oportunidade exata de realizar o meu desejo: colocar duas heroínas no mundo, e uma delas é uma jovem negra. Adoro ressignificar o que é ser mulher, e acho que os filmes têm o poder de mudar a história e os discursos. Coragem não tem gênero. Competência não tem gênero — comentou a cineasta.
Para as cenas de combate, efervescidas por cambalhotas, armas medievais, metralhadoras e muito contato físico, Charlize Theron fez uma longa preparação de treinos durante quatro meses, mesmo já tendo experiência no gênero, vide seus personagens em filmes como Mad Max (2015) e Atômica (2017):
— O processo de treinamento para esse filme foi diferente porque muitas lutas envolviam uma arma que lembra um machado. Nunca fiz um treinamento com armas como esse. Além disso, eram tantas técnicas de tantos estilos de luta que, não vou mentir, foi pesado – comentou a atriz.
Apesar da aparente violência que The Old Guard passa, o longa mexe muito com o conceito de união, amor e família, além da busca dos personagens por um propósito em suas vidas. E que, mesmo imbatíveis, talvez a única certeza, para todos, seja mesmo a morte.
— O significado real de viver para sempre afeta a noção de família dos personagens e como eles vivem sem saber se um dia vão morrer — explicou Greg Rucka.