Protagonista de Má Educação, filme disponível na plataforma HBO GO, Frank Tassone (Hugh Jackman) é um sedutor com boa lábia. Sempre veste terno e mantém aparência impecável — cabelo penteado com gel e terno engomado. Superintendente da Roslyn, escola pública de Long Island (EUA), é um gestor atencioso: está sempre disposto a ajudar. É alguém que se esforça para decorar os nomes dos estudantes. Também é ambicioso: luta para que sua escola seja a número um do país. Os estudantes o amam. Os colegas de trabalho, idem. A comunidade também. Entretanto, Tassone desviou US$ 11,2 milhões de recursos da escola, sendo o pivô de um maiores escândalos da educação americana.
No filme dirigido por Cory Finley — seu segundo longa na carreira, sendo Puro-Sangue (2017) o primeiro —, a trama adapta o escândalo que veio a tona em 2004. Ao lado de sua fiel escudeira, Pamela Gluckin (Allison Janney, a estrela da série Mom), Tassone desviava dinheiro da escola para investir em ternos caros, carros e viagens. Já Pam gastava com sua família, especialmente em reformas da casa.
Na vida real, a investigação começou com a denúncia de uma carta anônima. A experiência recomendada aqui é assistir ao filme sem saber o destino dos personagens principais, deixando a história se desenrolar diante de você.
Em Má Educação, a intrépida estudante Rachel (Geraldine Viswanathan) é quem desvenda o esquema. Inicialmente, a adolescente pretendia produzir uma matéria positiva e protocolar sobre a obra de uma nova passarela em Roslyn. Era um trabalho para o jornal da escola. Para Tassone, seria essa construção que levaria sua instituição ao topo.
Após Rachel entrevistá-lo preguiçosamente, ele a encoraja a buscar boas histórias e a tentar produzir boas reportagens — naquele espírito de quem ajuda todo mundo. Para quê? Ela começa a chafurdar os números da obra e a perceber que as contas não fecham, mas não só da futura passarela, como também dos supostos investimentos em Roslyn. O conselho de Tassone se volta contra ele.
Com uma trama bem costurada e sequências envolventes — destaque para o momento que toca In This World, de Moby, quando Tassone está melancólico em uma balada em Las Vegas —, os principais méritos de Má Educação estão pela atuação de seus personagens. Allison Janney traz uma Pam ácida e sutil, uma personagem que crê merecer tudo o que obtém (mesmo que utilize o cartão de crédito da escola). Há muita química entre ela e Hugh Jackman em cena — talvez o drama pudesse ter exibido mais momentos dos dois ou da própria escudeira, que some a partir da metade do filme.
Já Jackman entrega uma das melhores atuações de sua trajetória. De 2000 a 2017, o ator australiano interpretou nove vezes (duas não-creditadas) o austero Wolverine nos cinemas. Em Má Educação, Jackman vira a chave. Aqui ele vive um personagem vaidoso, que se vale de seu carisma para mentir e obter o que quer. É alguém com uma personalidade dúbia, que ama tanto a imagem que transmite de si mesmo quanto é corroído internamente pelo remorso. Em uma atuação classuda, Jackman carrega em seus gestos e olhares essa dicotomia, o que torna Má Educação uma experiência proveitosa.
E na vida real?
Como já foi dito antes, a experiência recomendada aqui é assistir Má Educação sem saber o destino dos personagens principais, mas se a curiosidade for maior, prossiga.
Frank Tassone foi preso em 2006 e colocado em liberdade condicional de 2010 até 2018. Ele não está autorizado a trabalhar em nenhum emprego que lhe permita ser responsável pelo dinheiro. No entanto, isso não é problema: como o filme aponta, ele ainda recebe mais de US$ 170 mil por ano devido a uma brecha da lei de pensões do Estado de Nova York. Segundo o site Oxygen, ele já quitou a quantia que desviou da escola.
Já Pam Gluckin foi presa em 2006 e solta em 2011, permanecendo em liberdade condicional até 2015. Ela morreu em 2017.