Michel Temer viu Democracia em Vertigem e não gostou. O ex-presidente da República afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que o documentário brasileiro, que o pinta como vilão e foi derrotado neste domingo (9) na disputa pelo Oscar, está mais para ficção do que para realidade.
"As imagens são reais, (o documentário é) muito bem fotografado, muito bem produzido, entretanto, há uma postura político-partidária e pessoal que retira a credibilidade do filme", disse o líder do MDB, em comunicado enviado pela assessoria.
Temer, que assumiu o Planalto após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) - fato político central do documentário dirigido pela cineasta Petra Costa - preferiu não dar entrevista, mas se manifestou sobre a produção via nota.
Para o ex-presidente, que também é especialista em direito constitucional, "ela (Petra) trabalha com uma visão equivocada do Estado de Direito e não com uma visão jurídico-constitucional. Aproxima-se mais de ficção do que documentário".
O publicitário Elsinho Mouco, marqueteiro do emedebista, prepara um documentário sobre o impeachment para se contrapor à narrativa da produção brasileira, que perdeu a estatueta do Oscar para o favorito Indústria Americana.
Segundo Mouco, Temer considera que "quem venceu na categoria documentário é um verdadeiro documentário". O longa-metragem mostra a chegada de uma fábrica chinesa aos Estados Unidos e os choques entre as culturas de trabalho dos dois países. Foi o primeiro lançamento da Higher Ground, produtora criada por Barack e Michelle Obama no ano passado.
A crítica de que impôs um olhar enviesado à trama do impeachment foi uma das principais que recaíram sobre Petra desde o lançamento de seu longa. A família da diretora tem um elo antigo com a do ex-presidente Lula (PT).
O argumento de que o filme se assemelha a uma ficção e se distancia do real já foi usado por outros detratores, como o ex-secretário nacional de Cultura Roberto Alvim, demitido após usar falas de Joseph Goebbles, ministro de Hitler, em pronunciamento oficial.
Democracia em Vertigem recapitula os conturbados últimos anos da política brasileira, da eleição de Lula à ascensão de Jair Bolsonaro, passando pelo impeachment de Dilma. Tudo isso a partir da perspectiva de Petra, cuja voz guia a narração em primeira pessoa.
O então vice-presidente é retratado como um dos artífices da derrubada da petista. Pela leitura da diretora, ele se aliou a líderes como o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), para dar um golpe em Dilma.
De acordo com Mouco, o ex-presidente assistiu à produção no penúltimo fim de semana, depois de voltar de uma viagem com a família.
Ele diz que o novo filme, que se chamará Trama contra a Democracia, ainda está em fase inicial e que detalhes de roteiro e produção serão definidos nas próximas semanas. A data de estreia não foi anunciada.