Na pauta do noticiário em razão da erupção do vulcão que matou um italiano e feriu um brasileiro, Stromboli é um nome que evoca a memória cinéfila. A ilha localizada ao norte da Sicília deu nome a um clássico do cinema nela filmado e com bastidores saborosos.
Stromboli, o filme, lançado em 1950, cristalizou o que à época se tinha por um "grande escândalo". Ingrid Bergman (1915-1982), estrela das mais brilhantes de Hollywood, havia se bandeado para a Itália para realizar seu desejo de trabalhar com Roberto Rossellini (1906-1977), grande mestre do neorrealismo, consagrado por obras referenciais como Roma, Cidade Aberta (1945). Ingrid buscava trabalhos menos glamourosos e mais empenhados artisticamente.
Em Stromboli, ela vive uma refugiada que ali desembarca, por não conseguir visto para a Argentina, refúgio que mirava na fuga da miséria e destruição que restavam na Europa ao fim da II Guerra. Ela acaba chegando na ilha por conta de um soldado italiano, a quem conheceu numa das paradas de sua na vida nômade e com quem se casou num rasgo de esperança quase desesperador por encontrar um porto seguro. A desolação da alma da protagonista se materializa fisicamente, quando ela percebe o que lhe espera naquele lugar inóspito e quase deserto no qual precisará recomeçar a vida.
Ingrid Bergman encontrou em Stromboli também uma paixão fulminante. Havia deixado marido e filha nos Estados Unidos. Ficou pela Itália e se casou com Rossellini, com quem teve três filhos, entre eles a também atriz Isabella Rossellini.
Esta, digamos, erupção de corações se passou em 1949 e foi bem ruidosa, como conta o documentário Bergman & Magnani: A Guerra dos Vulcões (2012), de Francesco Patierno. Rossellini também era casado e sua mulher, a diva Anna Magnani, era um muito querida na Itália. O imbróglio afetivo teve repercussão internacional e ganhou um componente catalisador da explosão. Isso porque Stromboli era filmado em locação próxima a de outro filme que estava sendo naquele mesmo momento na ilha, Vulcano, de William Dieterle, que tinha como protagonista justamente a furiosa Anna Magnani. A coincidência atraiu para o local turistas e jornalistas esperançosos em flagrar um barraco ainda mais espetacular do que um vulcão cuspindo lava. Uma operação de guerra e muita diplomacia ajudaram a pacificar os ânimos.