À medida que foram perdendo público nos anos 2000, por conta da pirataria e da ascensão do streaming, as locadoras procuraram se reinventar para manter a clientela. Houve quem transformasse seu estabelecimento em café, lan house ou loja de informática. Ou quem sabe, uma mudança de rumo, como foi o caso da Twin Video. Criada em 1991 pelo casal Denise Noah e Francisco Gaspar Franco, o negócio começou focado na locação, mas passou a enveredar para a revenda e troca de DVDs, Blu-rays, CDs e games.
– Começamos revendendo títulos repetidos para locadoras menores. Veio aquela crise toda, a pirataria, e acumulamos mercadoria. Tínhamos que desová-la. Então, mudamos nosso foco. Em vez de atender o atacado, passamos para o varejo. Percebemos que havia o público colecionador – diz Denise.
Localizada na zona norte de Porto Alegre, a Twin Video é sediada em um prédio com dois andares que, segundo seus proprietários, abriga 80 mil DVDs. A loja é tomada por filmes do chão ao teto, com clássicos, blockbusters, shows, infantis, séries etc. Há muitas caixas para colecionadores, que reúnem obras de diretores como Alfred Hitchcock e José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e chegam a custar centenas de reais. Também estão á venda CDs – semanas atrás, um box com 60 discos de Beethoven saiu por R$ 590.
– Tudo depende da raridade, tem filme que aparece a cada cinco anos, como o Grinch antigo (2000), cujo DVD esses dias foi vendido por R$ 190 – explica Franco.
Além de acervos pessoais de colecionadores, a Twin Video costuma negociar os títulos de locadoras que estão fechando. Quando a loja fica entupida de produtos, é realizada a feira de R$ 1 por DVD, aos sábados.
– Esses dias, veio um pessoal de Tapejara com 1.400 filmes para trocar. Tem muita coleção particular que tem mil ou dois mil filmes – relata Franco.
Café
Em 1991, a loja foi inaugurada como Videolocadora Hi-Fi. Agora é Hi-Fi Coffee, Beer & Film. Localizado na Independência, o estabelecimento deixou de locar filmes no ano passado, embora ainda tenha uma parede tomada por DVDs à venda. Passou a se transformar em café em 2011, além de servir cervejas artesanais.
– Parei de fazer locação por “n” motivos. Quando o cliente chegava aqui, já havia assistido a todos os títulos. Fazia cinco anos que acontecia isso. Muito filme sai só na Netflix. Começa a não valer a pena quando você ouve muito “já vi, já vi, já vi” – explica o proprietário, Eduardo Rocha.
Fundada em 1996, a Cia do Vídeo também se transformou em café. O proprietário, Paulo Souza, ainda está refletindo sobre o futuro do negócio, mas aos poucos a locadora está se transformando em um “pubzinho”. Localizada na Lima e Silva, a loja encolheu e agora ocupa um espaço menor no edifício. Ainda aluga e vende DVDs, mas com menos vigor que outrora.
– É uma reta final. Não adianta. Pretendo ficar porque ainda tenho clientes. Tudo vai virar streaming. É uma pena as pessoas não terem tantos lugares para procurar filmes. Hoje em dia é só Netflix... – lamenta Paulo.
Também há exemplos de locadoras virando outro tipo de comércio, caso da Video Center, de Santo Ângelo. Desde janeiro, o estabelecimento trocou de nome para DueGi, vendendo roupas, tênis, bonés, “essa coisa pra gurizada”, como define Régis Reginato, o proprietário.
– Estamos em fase de extinção, alugando e vendendo os últimos filmes. Espero que quando chegar o verão, a gente termine de vez com a locadora – afirma.
Reginato contabiliza realizar duas locações por dia, no máximo. Em um período mais abastado no ramo, chegou a ser tesoureiro da Associação Gaúcha de Videolocadoras (Agavideo), fundada em 2006. Era uma rede de cooperação que reunia locadoras do norte e nordeste do Estado. Os encontros foram minguando a partir de 2014 com o fechamento de lojas, até a extinção da Agavideo.
– Hoje em dia as pessoas tem mais opções para se distrair: Facebook, WhatsApp, Netflix. É como se não precisasse mais de filme – lamenta Reginato.