Antes de Olivia Wilde dirigir seu primeiro filme ou ser a estrela de inúmeros projetos que, lhe diziam, a tornariam o próximo grande acontecimento da indústria, ela era mais uma novata em Hollywood procurando por direcionamento.
Foi nesse período instável que Wilde, então com cerca de 20 anos, avistou Tilda Swinton em uma festa do Globo de Ouro. Ela se aproximou timidamente da etérea heroína de estilo camaleônico para, de maneira um tanto desajeitada, pedir conselhos.
Se Wilde esperava que Hollywood fosse um ringue de luta no melhor estilo A Malvada, onde garotas ingênuas são veneradas e as maduras são temidas, Swinton mexeu com as bases da jovem atriz ao lhe dizer que, com a idade, vêm a autoconfiança e a clareza sobre a identidade individual.
— Só posso ser muito especificamente eu mesma — declarou a experiente atriz sobre seu próprio trabalho.
Wilde tem refletido sobre esse encontro nos últimos 15 anos, mas apenas recentemente começou a entender a lição que levou dele, da maneira como a interpreta. Esqueça o mito de que os atores precisam apreciar a juventude porque jamais terão outro momento melhor na vida ou na carreira. Como a atriz me disse:
Só fica mais interessante quando você está velha demais para se fazer de tonta.
OLIVIA WILDE
atriz e diretora de cinema
— Só fica mais interessante quando você está velha demais para se fazer de tonta.
Olivia traz no currículo numerosos papéis coadjuvantes e sexualizados em melodramas televisivos (como nas séries The O.C., House e Vinyl) e para filmes não tão famosos (como Tron: o Legado e Cowboys & Aliens) — personagens que geralmente refletiam a imagem que terceiros tinham dela, e não como ela se via. Mas, se alguma vez já chegou a acreditar que precisava incorporar "a visão irreparável que todos tinham da mulher perfeita", ela disse ter aprendido que "não preciso carregar esse peso".
Seu novo filme, Booksmart — que estreia em 13 de junho no Brasil —, já seria especial pelo fato de ser a estreia de Wilde na direção, mas ela revelou outros motivos que o tornam importante.
— É impressionante que eu tenha 35 anos e este seja meu primeiro trabalho sem conexão com minha aparência e totalmente independente dela. Fico enojada de reconhecer isso, mas tenho pensado muito no assunto — reconheceu.
Em uma análise superficial, Booksmart pode não parecer o tipo de filme capaz de incitar sentimentos desafiadores. Trata-se de uma comédia com humor obsceno e estridente sobre duas amigas estudiosas (interpretadas por Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever) tentando aproveitar ao máximo a última noite antes da formatura no ensino médio.
Enquanto muitos atores começam na direção com filmes pedantes de temática política ou pretensiosa, Booksmart adoraria ser uma versão contemporânea de Jovens, Loucos e Rebeldes ou Curtindo a Vida Adoidado — uma celebração da adolescência a partir de uma perspectiva decididamente feminina. Além de ser claramente uma história sobre não julgar alguém pelas aparências.
Como os personagens de Booksmart, Wilde está aproveitando a liberdade recém-descoberta; ela está percebendo que o filme pode finalmente lhe proporcionar a experiência cinematográfica que ela sempre desejou.
Questiono se era eu mesma, verdadeiramente, ou se foi sempre algo carregado com um sentido de superficialidade, de ser julgada pelos outros de fora? Não sei.
OLIVIA WILDE
atriz e diretora de cinema
Ela não está se despedindo da carreira de atriz nem negando os trabalhos que fez no passado, embora esteja jogando nova luz sobre alguns deles.
— Questiono se era eu mesma, verdadeiramente eu, ou se foi sempre algo carregado com um sentido de superficialidade, de ser julgada pelos outros de fora? Não sei.
Por outro lado, ela aponta que, com Booksmart, "eu estava ali apenas por causa do meu cérebro e do meu coração. E a sensação de realização que advém disso é realmente monumental. É uma mudança profunda para mim".
Quando adolescente, Wilde frequentou a Phillips Academy, colégio interno de elite em Andover, Massachusetts, e ficava fascinada com as adolescentes aparentemente despreocupadas e libertas que via em filmes como As Patricinhas de Beverly Hills e Picardias Estudantis.
Wilde foi rapidamente absorvida pelo circuito de Hollywood no início dos anos 2000: primeiro, na curta série dramática da FOX Skin, em que interpretava a filha de um magnata da pornografia, depois em The O.C., como uma bissexual que namorou o casal de protagonistas da série. Papéis facilmente esquecíveis, mas, para ela, foram marcos importantes.
— Eu costumava rejeitar The O.C., dizendo: "Fiz uma série adolescente – que vergonha." Mas agora penso que foi importante para minha formação e que tive sorte de poder fazê-la.
Ela também é otimista em relação aos papéis infames que teve no cinema, que ela tinha certeza de que a impulsionariam ao estrelato. Sobre a estreia, em 2010, de Tron: o Legado, filme de ficção científica em que interpretava uma guerreira digital que vestia um traje de luz grudado ao corpo, Wilde disse:
— Todo mundo perguntava: "Você está pronta para isso?". Especialistas em segurança me diziam que eu precisaria instalar telas protetoras de aço nas minhas janelas. E claro que isso não aconteceu.
Também não aconteceu com Cowboys & Aliens, em que ela emerge nua de uma pira fúnebre, nem com Rush – No Limite da Emoção, nem com O Incrível Mágico Burt Wonderstone, nem com Vinyl — esta última, uma série sem sucesso da HBO, teve apenas uma temporada, na qual a personagem de Wilde era uma ex-modelo/atriz cuja trajetória, convenientemente, também pedia cenas de nudez.
Nos últimos anos, a artista tem construído um portfólio como diretora — área em que, ela garante, "meu valor não está relacionado com minha aparência" —, fazendo videoclipes para Red Hot Chili Peppers e Edward Sharpe & the Magnetic Zeros, e um curta-metragem para a revista Glamour. Ela já produziu documentários, assim como filmes de ficção, que também estrelou, como a comédia Um Brinde à Amizade, de Joe Swanberg.
Spike Jonze, que escalou Wilde para um pequeno papel no romance/ficção científica de 2013 Ela, se lembrou da atriz por uma curiosidade inata fundamental para o cinema.
— Ela não é nada afetada. Chegou sem inseguranças nem ego para lidar. Foi simplesmente: tudo bem, o que você quer que eu faça? Ela é realmente movida por um entusiasmo para fazer coisas, aprender e tentar aquilo que não sabe como fazer — descreveu Jonze.
Wilde leu o roteiro de Booksmart e sentiu afinidade, acreditando poder fazer dele "um hino de toda uma geração — algo que pudesse ajudar as pessoas a encontrar a alegria e a diversão de crescer". Além disso, o projeto também lhe ofereceu oportunidades de corrigir os erros que havia experimentado em outros projetos e de criar o tipo de set de filmagem protetor e acolhedor que sempre quis para si.
Quando chegou a hora de filmar uma cena íntima de amor entre Dever e outro ator, Wilde contou:
— Fiquei tão animada de explicar a todos como achava que um set fechado deveria ser. Não há 100 pessoas no quarto. Perdi a conta de quantas vezes fiz uma cena de sexo em que perguntei: "Tem certeza que aquele cara precisa estar lá?"
Feldstein, ator coadjuvante no filme Lady Bird: A Hora de Voar, comparou Wilde com a roteirista e diretora do longa, Greta Gerwig, também uma atriz estreando atrás das câmeras com uma história bem-humorada sobre amadurecimento.
— Você simplesmente sabe quando alguém está destinado a contar uma história e quando você faz parte de algo que foi feito para ser contado. Em Lady Bird: A Hora de Voar, senti que estava vendo uma pessoa criar algo que apenas ela poderia contar. E, quando conheci Olivia, pensei: "Há duas dela?" — disse Feldstein.
Por enquanto, Wilde está aproveitando a experiência de Booksmart e sentindo que finalmente está à altura do potencial que os outros viam nela. Ao se lembrar de outro encontro com celebridades que a ajudou em sua formação, narrou um com Steven Spielberg em um evento do filme O Pacificador. Na ocasião, comentou com ele o desejo de fazer filmes.
Algum tempo depois, Wilde recebeu um recado de Spielberg em que se lia: "Se você quer ser médico, olhe antes de saltar. Se quiser entrar para a indústria do entretenimento, salte antes de olhar." Ela emoldurou o pedaço de papel com a nota e mantém o quadro em seu escritório.
— Quero dizer a ele que dei aquele salto — concluiu.
Por Dave Itzkoff