Greta com Laurie Metcalf e Saoirse Ronan no AARP's. Foto: AFP
Por Bibiana Osório, jornalista e produtora audiovisual
Em um dos vídeos de divulgação de Lady Bird – É Hora de Voar, a diretora Greta Gerwig rebate o questionamento sobre a proximidade entre sua vida e sua obra no cinema:
– Nada daquilo aconteceu, mas é tudo verdade.
Assim como a protagonista do filme – que estreia nesta quinta-feira no Brasil e concorre a cinco estatuetas no Oscar –, a diretora também cresceu em Sacramento, costa oeste dos EUA, estudou em escola católica e nutria o desejo de mudar-se para a fervilhante Nova York. Em tempos de selfies e proliferação das narrativas autobiográficas (não só nas redes sociais, mas também na arte), filmes como Lady Bird carregam em si o entendimento da ficção como lugar de elaboração da vida e não da mera transposição das experiências vividas, muito menos de exaltação do eu a serviço de uma estética da intimidade.
Lady Bird marca a estreia de Greta, 34 anos, na direção solo e compartilha com os demais filmes da sua carreira o foco em jornadas de amadurecimento. Longe de uma visão redentora das personagens principais, seus filmes delineiam processos em curso. Encapsulam em 90 minutos angústias de jovens dando conta de mudanças e adaptações inerentes ao desenrolar da vida. Em Frances Ha, roteirizado em parceria com o americano Noah Baumbach – seu companheiro em diversas produções e na vida –, vemos uma jovem assumindo responsabilidades e lidando com o distanciamento da melhor amiga. Já em Mistress America, outra parceria com Baumbach, a entrada na universidade norteia a trama da garota que se vê sozinha numa nova cidade.
Greta acumula experiência também como atriz, junto ao grupo de realizadores independentes Mumblecore – algo como “geração resmungo”, referência às limitações da captação de som amadora. O movimento assina realizações com baixos orçamentos, uso de não-atores e a improvisação técnica e dramatúrgica. São dessa época títulos como Hannah Sobe as Escadas, LOL e Nights and Weekends – este sua primeira experiência na direção, dividindo a função com Joe Swanberg.
Formada em Língua Inglesa e Filosofia, Greta destaca em entrevistas que sua grande escola de cinema tem sido a observação e vivência no set. A prática no fazer cinematográfico confere aos seus filmes a honestidade e a leveza que só os adeptos ao “vou fazendo e no caminho descubro como se faz” são capazes de imprimir em suas obras. Talvez esse seja o grande trunfo da diretora.
Sem pedantismo e bandeiras, o cinema intuitivo de Greta vem conquistando pela simplicidade e precisão. É o tipo de cinema que abraça o espectador com uma cena da protagonista saltitando pelas ruas de NY ao som de David Bowie, mesmo em meio ao caos do cotidiano. Ou então, cutuca com doçura a relação visceral entre mãe e filha. Vividas por Laurie Metcalf e Saoirse Ronan, ambas indicadas às estatuetas de atuação, elas oscilam em poucos segundos de diálogo entre trocas de farpas e intensa cumplicidade.
Gerwig é a quinta mulher a ser indicada para Oscar de Melhor Direção ao longo dos 90 anos da premiação. Lady Bird é também o 13º longa dirigido por mulheres a concorrer na categoria de Melhor Filme em toda história do Oscar. Sem minimizar a importância da representatividade feminina na premiação, minha torcida é para que o cinema de Greta siga ativo e honesto à sua verdade.
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