Diretor negro e militante pela igualdade racial, Spike Lee deixou claro que se incomodou com a vitória de Green Book - O Guia como melhor filme no Oscar 2019, cuja cerimônia foi realizada neste domingo (24) em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Quando o filme estrelado por Viggo Mortesen e Mahershala Ali foi mencionado na categoria máxima da premiação, Spike Lee dirigiu-se ao fundo do Teatro Dolby, visivelmente irritado, e travou uma conversa com o diretor Jordan Peelee, que também é negro e produziu Infiltrados na Klan, que deu a Lee a estatueta de melhor roteiro adaptado.
Mais tarde, durante coletiva de imprensa, o diretor explicou seu comportamento.
— Me senti como se estivesse na quadra do New York Knicks e o juiz tivesse acabado de tomar uma decisão ruim — disse.
Green Book retrata a história de um personagem real, o pianista negro e homossexual Dr. Don Shirley, e seu relacionamento de amizade com o motorista Tony "Lip" Vallelonga, papel de Viggo Mortensen, um homem grosseiro e preconceituoso. O filme rendeu críticas por parte da família do pianista, que disse que não houve fidelidade na adaptação.
O incômodo de Lee parece ter relação com a preferência da Academia por filmes que retratam a questão racial com menos contundência. No mesmo discurso feito nos bastidores após a cerimônia, ele voltou a uma fato do passado, quando um filme seu, Faça a Coisa Certa (1989), também engajado na causa racial e que sequer foi indicado ao Oscar de melhor filme naquele ano, vitória alcançada por Conduzindo Miss Daisy, que retrata a amizade de uma mulher branca e rica com seu motorista negro.
— Toda a vez que alguém está dirigindo o carro de alguém, eu perco — ironizou. — Esse filme (Infiltrados na Klan), ganhando ou não o Oscar, o fato é que estamos do lado certo da história — disse o diretor.