Os bastidores do Oscar, na sala de entrevistas do Dolby Theatre, tiveram vários elementos de um bom blockbuster hollywoodiano.
A comédia furiosa foi cortesia de Spike Lee, que chegou inebriado pela felicidade e pelo champanhe.
— Já tomei seis taças, vocês sabem o porquê — disparou o vencedor pelo roteiro adaptado de Infiltrado na Klan e flagrado irritado com a vitória de Green Book como melhor filme.
A tensão chegou com a equipe de Green Book, filme cercado por controvérsia na campanha, como o resgate das histórias do diretor Peter Farrelly exibindo os genitais e do roteirista Nick Vallelonga tuitando ter visto muçulmanos comemorando o 11 de Setembro.
— Foi desencorajador, mas sempre confiamos no filme — afirmou o produtor Jim Burke. — Quando tínhamos um dia ruim, lembrávamos de como estávamos orgulhosos do longa.
O mexicano Alfonso Cuarón, vencedor de três estatuetas diretas (ele dirigiu, fotografou e produziu Roma), trouxe a preocupação social.
— Esse foi o filme que menos esperava levar [algum Oscar], então estou extasiado. O mais importante é que o público e a Academia estão abraçando uma personagem que é trabalhadora doméstica com raízes indígenas —disse.
Em determinado momento, Cuarón perguntou aos jornalistas, em inglês, como estava o espanhol deles. Passou a responder na sua língua materna as perguntas dos latinos.
Em seguida, Rami Malek, ganhador como melhor ator por Bohemian Rhapsody e filho de imigrantes egípcios, falou em árabe e disse que se sente "privilegiado por representar a sua herança e tradição."
Malek não tocou no nome do diretor Bryan Singer, demitido nas filmagens de Bohemian Rhapsody por causa de comportamento errático e acusações de abuso sexual no passado. Só deixou claro que foi uma "dura batalha".
— Vocês sabem o que aconteceu. O fato de estar aqui comemorando é a prova de que muitas coisas podem ser superadas.
Com o cinema mexicano em alta, o dramalhão só apareceu nos bastidores. Última entrevistada, Lady Gaga, dona da melhor canção por Shallow, de Nasce Uma Estrela, desfilou seus discursos de superação, ao lado dos coautores Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt:
— Gostaria de dizer que uma das maiores dificuldades na vida é ser corajosa o suficiente para ser você mesma. Quando olhei diretamente para a estatueta do Oscar, vi muita dor. Tudo que passei. Mas também senti a camaradagem e a verdade da dor que os homens ao meu lado também superaram. Não é um trabalho fácil. Vivemos tempos muito rasos. Temos a chance de dar as mãos, mergulhar juntos na água e nadar para as profundezas do oceano.