O traumático processo de luto é retratado, paradoxalmente, cheio de vida em Vergel, co-produção entre Argentina e Brasil que estreou no CineBancários na última quinta-feira (7). Exibido na mostra competitiva de longas brasileiros do 45º Festival de Cinema de Gramado, em 2017, o drama traz Camila Morgado (Olga e A Casa das Sete Mulheres) interpretando com destreza uma viúva que precisa lidar com a perda de seu marido, que morreu durante as férias do casal em Buenos Aires.
Dirigido pela cineasta argentina Kris Niklison, o filme não entrega como o marido teria morrido ou dá maiores detalhes sobre o casal – os nomes sequer são identificados. Após ser avisada da perda por telefone, a protagonista começa lidar com a burocracia jurídica dos hermanos, similar a daqui, para trazer o corpo de volta ao Brasil.
Vergel se passa inteiramente no terraço onde o casal estava hospedado durante o verão portenho. Enquanto aguarda angustiosamente a liberação do marido, a mulher se encontra em sua dor asfixiante enquanto está confinada no apartamento. Limita-se a buscar informações pelo telefone, perambular taciturnamente em diferentes cômodos e tentar regar as plantas. Para auxilia-la nessa última tarefa, surge a extrovertida vizinha argentina interpretada por Maricel Álvarez (Biutiful). Com humores opostos, as duas criam um laço inesperado.
Alternado cores vivas e sequências ensolaradas com tons frios e soturnos, Vergel trabalha com a dualidade da vida e morte. Com ritmo cadenciado, Kris transmite sua poesia dicotômica, como ao utilizar a água: o elemento pode transmitir um luto claustrofóbico na banheira, assim como pode ser uma um elemento de vida quando jorra da mangueira para as plantas. Bem conduzida por sua diretora, Vergel é uma bela experiência sensorial e pictórica.
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