Antes de emprestar sua voz ao ranzinza anti-herói verde que detesta o Natal, o ator Lázaro Ramos havia trabalhado como dublador apenas duas vezes: a primeira, em clima de brincadeira, em O Destino de Miguel, redublagem sobre cenas do filme Shakespeare Apaixonado que reuniu Wagner Moura, Caetano Veloso e Zéu Britto em diálogos desbocados, inspirados em produções como Tela Class e Batman na Feira da Fruta, que faziam sucesso no início dos anos 2000. A segunda foi na animação gaúcha As Aventuras do Avião Vermelho, inspirada na obra homônima do escritor Erico Verissimo.
Agora, Lázaro Ramos é o responsável pela voz em português do protagonista de O Grinch, desenho animado que estreia hoje nos cinemas. Este é um dos mais representativos personagens, ainda que às avessas, do espírito natalino. Para o ator baiano, foi um desafio inédito que causou diferentes sensações:
– Foi desesperador – brinca Lázaro, em entrevista por telefone, para em seguida prosseguir: – No primeiro momento, achei que não ia conseguir. A partir do terceiro dia, comecei a entender que você também faz parte do personagem, e começa a ficar muito divertido. É o momento em que senti liberdade de tentar encaixar palavras, usar gírias nossas, encaixar piadas.
Trama combina humor e emoção
O Grinch foi criado pelo escritor americano Dr. Seuss em 1957, no livro How the Grinch Stole Christmas!, e já ganhou outras versões para cinema e televisão. A mais famosa foi produzida em 2000 e teve o ator Jim Carrey no papel principal, em carne, osso e muita maquiagem. Agora, 18 anos depois, a versão animada tem na versão original em inglês a voz de Benedict Cumberbatch. A escolha por um ator menos ligado à comédia não é por acaso: nessa nova adaptação, O Grinch tem um tom emocional que o filme anterior não tinha.
A base da história segue a mesma: Grinch é um monstrengo verde que não suporta o Natal e detesta os habitantes de Quemlândia, cidade vizinha que comemora efusivamente a data. Ele então decide invadir todas as casas para roubar elementos relacionados ao Natal. O mau humor, a ranzinzice, a falta de paciência, estão todos lá. Mas há também cenas da infância do verdão, relações afetivas dele com amigos e, é claro, demonstrações de que, por trás da cara de poucos amigos, há um coração que pode sentir afeto.
– É uma história universal, de um cara que se sente à margem, isolado do grupo, e é muito mal-humorado. Mas ele acaba se transformando por causa do gesto de uma criança. É uma nova versão, feita para apresentar o personagem a uma nova geração, unindo emoção com muito humor – explica Lázaro, que tem no currículo quatro livros infantis e três peças de teatro voltadas aos pequenos.
– É um universo de que eu gosto muito, porque a plateia infantil é a mais desafiadora. Ela não esconde o que sente – diz o ator