Esgotou-se nesta quinta-feira (6) o prazo para que o Cine Victória, instalado desde 1940 na mesma galeria da Rua Borges de Medeiros, em Porto Alegre, feche suas portas. Há 30 dias, a empresa que loca as salas avisou que não renovaria o contrato de aluguel com os administradores do cinema e deu prazo de um mês para que o espaço fosse desocupado.
No Facebook, a página do Cine Victória publicou uma mensagem em que diz que "sim, ele vai fechar, estamos em negociação para pedir um prazo maior para cumprir o calendário de cinema". Ao fim do texto, assinado por Roberta Martins, os proprietários informam que tentaram "uma renovação, mas quando a pessoa só visa lucros não tem negociação". Procurada, a Edifícios Reunidos, empresa dona das salas, preferiu não se pronunciar sobre o assunto.
Luiz Carlos Maurente, sócio-administrador do Cine Victória, avalia dar início a uma espécie de resistência: diz que não pretende deixar o espaço e garante que vai manter as sessões de A Freira e Jovens Titãs em Ação, previstas até o dia 12, em cartaz.:
– Vamos permanecer na sala. Não vamos sair até que se defina. Claro que isso pode desencadear uma ação de despejo e ir parar na mão da Justiça, mas estimamos que isso possa nos dar mais seis meses ou um ano de prazo.
Com um público de cerca de 5 mil frequentadores por mês, o Cine Victória se mantém com a renda da bilheteria e da bombonière, além da parceria com uma empresa de São Paulo. Segundo Maurente, isso fez com que o aluguel sempre fosse pago em dia.
Além do prazo considerado curto para deixar a sala, Maurente explica que o Cine Victória possui um contrato com o BNDES, que financiou os equipamentos da sala e exige que eles sejam utilizados pelo menos até 2021. Caso saiam da galeria no Centro de Porto Alegre, os administradores do cinema veem o Interior como única possibilidade de manter as atividades. De acordo com ele, a única negociação proposta pelos proprietários da sala foi um aumento do valor da locação em mais de 50%, mas sem qualquer previsão de extensão do contrato – que, atualmente, vigora em prazo indeterminado.
– Estamos buscando um espaço, por isso pedimos mais prazo. Em Porto Alegre é muito complicado, porque uma sala de cinema exige uma série de instalações especiais. E não há nenhum shopping com espaço para outra sala de cinema. Talvez o Interior seja uma solução.
Com 78 anos de história, o Cine Victória já foi um dos mais tradicionais cinemas de calçada da Capital. Maurente o considera, atualmente, o único cinema de rua no circuito comercial – há outros, mas com foco em produções alternativas. Administrado por Maurente e dois outros familiares, o cinema, dividido em duas salas, tem capacidade para 350 espectadores, que normalmente têm entre duas e quatro opções de filmes.