Em Descompensada (2015), Amy Schumer estrelou e roteirizou uma comédia romântica que trazia nas entrelinhas um manifesto sobre o estereótipo de beleza feminina no cinema. A atriz vivia uma mulher como ela mesma: acima do peso e com excessos de curvas, tipo incomum ao padrão imposto por Hollywood e, em especial, pela publicidade. Bem-sucedida na carreira e nas relações sociais, a personagem ignorava o conceito de monogamia divertindo-se com diferentes parceiros.
Mas é em Sexy por Acidente (no original, I Feel Pretty, "eu me sinto bonita") que a atriz nova-iorquina coloca a crítica à idealização do corpo perfeito em pauta com um bem-humorado debate sobre confiança e autoestima.
No filme em cartaz a partir desta quinta-feira (28) em Porto Alegre, Amy interpreta Renee, mulher solteira com complexo de inferioridade e infeliz com o trabalho em um pequeno escritório. A insegurança com o biotipo acima do peso torna seu dia a dia ainda mais difícil. Por mais que ela tente emagrecer e sentir-se melhor consigo mesma, matriculando-se em uma academia, precisa lidar com uma sociedade resistente a aceitar diferenças entre os padrões estéticos.
O ponto de vista de Renee a respeito de seu corpo muda após ela acordar de um tombo na aula de spinning. De repente, passa a enxergar no espelho como uma mulher "perfeita", embora a sua aparência não tenha sido alterada como a sua autoestima.
O acidente insere em Renee uma autoconfiança que passa a refletir-se em seu cotidiano. O seu visual ganha mais cor, e a sua vida amorosa torna-se movimentada depois que ela sente-se corajosa para convidar um homem para sair. Mas o ponto alta das conquistas da nova Renee se dá no ambiente profissional, ao entrar para a empresa de cosméticos na qual sonhava em trabalhar.
Apesar de ter o primeiro trailer criticado nas redes sociais por internautas que associaram o filme à prática do chamado body shaming (crítica ao corpo de outra pessoa), Sexy por Acidente é um retrato da sociedade atual. Ao defender o filme dirigido por Abby Kohn e Marc Silverstein na imprensa americana, Amy afirmou que a interpretação equivocada do longa não considerou sua principal mensagem: empoderamento e amor-próprio.
Com Michelle Williams atuando como Avery LeClaire, neta da proprietária da empresa de cosméticos, e Rory Scovel como Ethan, o namorado apaixonado pela personalidade segura de Renee, o filme assemelha-se um tanto ao enredo de O Amor É Cego (2001) e apresenta referências de O Diabo Veste Prada (2006).
Amy, por sua vez, volta ao cinema com piadas menos excêntricas e em cenas mais comportadas em relação a outros trabalhos. Traz à tona uma crítica social sem perder o seu humor ácido característico.