Em 1956, Marilyn Monroe foi à Inglaterra filmar nos estúdios Pinewood, ao norte de Londres, com Laurence Olivier. Era a comédia levinha, porém tensa e destinada ao fracasso O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl), filme que entrou para a história pela falta de química entre seus inseguros e incompatíveis astros. A história ou parte dela é contada em My Week With Marilyn (ainda sem título em português ou previsão de estreia no Brasil), delicioso e despretensioso filme com atuações gloriosas de Kenneth Branagh e Michelle Williams como Olivier e Marilyn, os participantes de um triângulo amoroso entre duas estrelas e um desconhecido.
Tudo é contado sob o ponto de vista de fã do terceiro assistente de direção, Colin Clark. Louco por cinema, o jovem aspirava trabalhar na produtora de Olivier e acabou contratado como uma espécie de faz-tudo para o filme - e algo nele chamou a atenção de ninguém menos do que Marilyn. Com sua genialidade para escravizar homens deslumbrados e transformá-los em galanteadores sem amor próprio, ela fez dele seu confidente e ajudante. Em 1995, Clark publicou suas memórias daquela época, mas depois, em 2000, em um golpe dramático tardio, lançou uma biografia ainda mais aprofundada - na qual o filme é baseado -, revelando uma íntima e romântica semana a sós com Marilyn quando o marido dela, Arthur Miller, estava fora. É claro que ele apaixonou-se perdidamente pela enfeitiçante estrela.
Eddie Redmayne faz um bom trabalho no papel de Colin Clark, mas a cena é roubada mesmo pelos dois intérpretes dos astros. Kenneth Branagh está estupendo como Olivier: é um papel que ele nasceu para interpretar. Branagh revive Olivier com sagacidade, inteligência e charme. Mas como a arte imita a vida, os holofotes são desviados de Olivier por Marilyn, interpretada magnificamente por Michelle Williams: a atriz recria a figura icônica não ao invocar a boca carnuda ou os suspiros, mas os olhos brilhantes e assustados, arregalados por lágrimas não derramadas - amedrontados e irados pela perspectiva de mais uma explosão temperamental por parte de "Sir Olivier".
O filme mostra como a intriga sexual torna-se uma compulsão tão grande em um set de filmagens que sempre é preciso arranjar uma válvula de escape, seja onde e como for. Todos pareciam esperar faíscas do encontro entre Olivier e Marilyn, mas elas não fluíram em razão de serem ambos tão carentes, tão acostumados a serem adorados. Assim, a sensualidade é transferida para o pobre Colin, que se torna o condutor elétrico de toda a situação. My Week With Marilyn não almeja a nenhuma revelação bombástica, mas é fonte de prazer e diversão ao prestar uma homenagem despretensiosa a um péssimo filme que de alguma forma, nos bastidores, deu origem a uma sensível história de quase-amor.