Jean-Luc Godard voltou a provocar barulho em Cannes. O inquieto cineasta franco-suíço de 87 anos participa pela sétima vez do festival francês, com Le Livre d'Image, filme-ensaio dividido em cinco partes temáticas, com o qual propõe uma reflexão sobre o mundo árabe por meio de imagens documentais e de ficção.
Godard não estava em Cannes, na sexta-feira (11), quando Le Livre d'Image foi exibido na seleção principal do evento, competindo pela Palma de Ouro. Mas participou da entrevista coletiva à imprensa, no sábado (12), por meio do telefone celular de seu produtor.
— Eu acho que o cinema como eu concebo é como uma pequena Catalunha, que tem problemas para existir — disse Godard, quando perguntado sobre a frase "Tributo à Catalunha" que aparece em seu filme.
O diretor explicou que era uma alusão ao trabalho de George Orwell e também aos eventos que ocorreram na Catalunha durante a produção do filme, em plena crise com o governo espanhol sobre a questão da independência da região.
Na sala de imprensa, os jornalistas foram encaminhados para fazer suas perguntas, um a um, em frente ao telefone e um microfone. Com uma voz cavernosa, Godard respondeu a todos por 45 minutos, por meio do aplicativo FaceTime.
Autor que ajudou a revolucionar o cinema à frente da nouvelle vague e dono de uma trajetória que engloba da militância política à exploração de novas linguagens audiovisuais (foi um pioneiros no uso do suporte digital, Godard respondeu afirmativamente se continuará a fazer filmes:
— Sim, se eu puder. Mas não depende de mim, mas sim das minhas pernas, muito das minhas mãos e um pouco dos meus olhos.
Godard vive na Suíça. Sua última aparição pública relacionada ao cinema foi em 2004, quando apresentou Nossa Música fora de competição em Cannes. Sua presença no festival em 2018 é especialmente simbólica, 50 anos depois de ele ter liderado um protesto em solidariedade ao movimento de estudantes e trabalhadores no Maio 68, que acabou cancelando a edição do festival naquele ano. E o cartaz oficial de Cannes é uma cena de seu cultuado filme Pierrot le Fou (1965), em que o ator Jean-Paul Belmondo beija a musa Anna Karina.