Marilyn Monroe certa vez disse que Hollywood era o lugar "onde te pagam mil dólares por um beijo e 50 centavos por sua alma". Mas quando se trata de bilheteria, a fé acaba sendo um tema muito lucrativo. Os filmes religiosos, destinados principalmente a públicos evangélicos nos Estados Unidos, ganharam um espaço importante nos cinemas desde o final da década de 1990. No Brasil, a situação não é muito diferente: Os Dez Mandamentos – O Filme está no topo da lista dos filmes brasileiros mais vistos desde a década de 1970, apesar da polêmica sobre a venda expressiva de bilhetes e as sessões vazias. Nesta semana, também estreou no circuito outro filme ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Nada a Perder conta a trajetória do bispo evangélico Edir Macedo, fundador da congregação, e promete ser outro "sucesso de bilheteria".
Há duas semanas, Eu Só Posso Imaginar foi o terceiro filme de maior bilheteria nos EUA. Estreou no dia 16 de março na América do Norte, com 17,1 milhões de ingressos vendidos e 10 dias depois já acumulava US$ 38,1 milhões. O filme é protagonizado por Dennis Quaid e J. Michael Finley, que interpreta o vocalista de uma popular banda cristã.
Paulo, o Apóstolo de Cristo estreou no dia 25 de março, mas com uma bilheteria mais modesta de US$ 5,1 milhão e uma crítica não muito favorável. O jornal LA Times o classificou de "tedioso". É protagonizado por James Faulkner e Jim Caviezel, que, por sua vez, interpretou Jesus em A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, em 2004.
Até os anos 1990, raramente estreava um filme religioso. Até 2006, estreavam entre quatro e cinco filmes deste gênero por mês. O auge se deve a um pequeno grupo de distribuidores que "realmente decifraram o código" do que o público religioso quer, normalmente trocando os dramas épicos bíblicos por histórias mais modernas e contemporâneas – no Brasil, a chave parece ainda não ter virado, já que as histórias bíblicas ainda reinam nas produções audiovisuais.
– Esses filmes têm de vir de um lugar autêntico. Não se pode chegar a uma reunião de executivos e dizer "os filmes religiosos são populares, vamos fazer um". É preciso ser autêntico, as comunidades baseadas na fé saberão se vocês estão ou não desenvolvendo uma boa história – aposta o analista Paul Dergarabedian, do site comScore.
Caviezel está em negociações para fazer uma sequência de A Paixão de Cristo, o mais lucrativo filme sobre tema religioso da história, com uma bilheteria global de mais de US$ 600 milhões, 20 vezes mais do que custou para produzi-lo.
– Não estava fazendo lobby pelo papel porque ninguém sabia o que estava acontecendo – disse Caviezel sobre seu casting em 2004, em uma recente conferência da The Fellowship of Catholic University Students. – Mel Gibson queria que eu interpretasse Jesus Cristo, queria um cara cujas iniciais eram JC e que tinha acabado de completar 33 anos para encarnar Jesus Cristo. É uma coincidência? Eu não penso assim – disse ele.
Quarto de Guerra (2015), que também teve uma crítica negativa, arrecadou US$ 67,8 milhões, atingindo o topo da bilheteria em sua segunda semana. Um ano antes, Deus Não Está Morto estreou com US$ 9,2 milhões e chegou a US$ 60,7 milhões, com uma sequência em 2016 que arrecadou US$ 20,7 milhões. Deus Não Está Morto: Uma Luz na Escuridão, terceiro filme da série, estreou na última sexta-feira (30), aproveitando o fim de semana de Páscoa.
As bilheterias não parecem muito comparadas a grandes produções como Pantera Negra, que ultrapassou os US$ 600 milhões, mas se trata de um gênero que já vendeu US$ 2 bilhões em ingressos desde o final do século passado, segundo o site Box Office. E isso sem contar produções gigantescas que não são consideradas evangélicas: Os 10 Mandamentos (1956) de Cecil B DeMille; as produções de 2016 Ben-Hur, Silêncio e Até o Último Homem; e o filme de animação A Estrela de Belém (2017).