Em um momento em que os meios de comunicação são acusados de divulgar "notícias falsas", Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks levam todo o poder das estrelas a um filme que é uma grande homenagem ao jornalismo e às virtudes da imprensa.
The Post: A Guerra Secreta, que estreia em 25 de janeiro no Brasil, conta os bastidores da batalha para a publicação, em 1971, pelo jornal The Washington Post dos Papéis do Pentágono, um relatório que revelou as mentiras sobre a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Dirigido por Spielberg, o filme tem como protagonistas Meryl Streep, como a aristocrata editora do jornal Katharine Graham, e Tom Hanks, no papel do tenaz editor executivo Ben Bradlee. O drama central do filme aborda a decisão de Graham de publicar os documentos do Pentágono, um movimento que poderia ter provocado consequências fatais para o jornal que começou a dirigir em 1963, após o suicídio de seu marido.
Os Papéis do Pentágono, vazados pelo informante Daniel Ellsberg, eram um relatório confidencial de 7 mil páginas que afirmava, ao contrário das declarações públicas dos funcionários do governo americano, que a guerra do Vietnã era impossível de vencer. O jornal The New York Times publicou trechos do relatório até que o governo do presidente Richard Nixon obteve uma ordem judicial que proibia à publicação continuar interferindo em temas de segurança nacional. Foi então que o Washington Post entrou na jogada, assumindo a missão e desafiando os perigos legais e financeiros.
Spielberg, Streep e Hanks compareceram à pré-estreia de The Post, há duas semanas, no museu dedicado ao jornalismo, o Newseum, que fica a poucas quadras da Casa Branca, na avenida Pennsylvania. Mesmo ausente, o evento girou em torno do presidente Donald Trump, que há meses lidera uma campanha contra a imprensa, que considera injusta com ele. Trump tem sido particularmente mordaz com a CNN e o The New York Times e atacou repetidamente o Post, que acusou de "desonesto, mentiroso" e, seus termos favoritos, de publicar "fake news" (notícias falsas).
Na sessão de pré-estreia do filme, Spielberg, Hanks e Streep, que já foi chamada por Trump de "superestimada", evitaram citar o nome do presidente e minimizaram os comentários de que o filme seria uma crítica à atual Casa Branca.
– Acredito que é muito, muito importante que nosso filme não seja visto como uma obra política ou partidária por parte do que chamam de mídia liberal ou Hollywood – disse Spielberg. – Não o vejo como um filme partidário, e sim como um filme sobre patriotismo e sobre os meios de comunicação corajosos, o Quarto Poder, e tudo o que fizeram para conseguir publicar os Papéis do Pentágono, que depois levou a Watergate.
O caso Watergate foi tema de um grande sucesso de Hollywood, no qual o Washington Post também teve um papel central: Todos os Homens do Presidente, filme no qual Robert Redford e Dustin Hoffman interpretaram os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein.
Apesar dos pedidos de Spielberg, os críticos observam paralelos inevitáveis entre The Post, sua defesa da imprensa e a difamação constante de Trump aos meios de comunicação.
– The Post nos leva de volta a um tempo em que os resultados eram precários e as liberdades que considerávamos garantidas pendiam por um fio – afirma a revista Variety.
– Exatamente como hoje.
Para a revista The New Yorker, The Post não é um filme de época. Enfrenta diretamente o dia de hoje, lutando pela urgência de uma manchete.
– O filme está aqui para nos alertar sobre as novas ameaças à liberdade de imprensa.