As filmagens de A Cabeça de Gumercindo Saraiva começaram pelas bandas de São Francisco de Paula, em dia 16 de outubro, e terminam em Porto Alegre, nesta quarta-feira (8), após também encontrar locações em Canela, Cambará do Sul, Gravataí e São Miguel das Missões. Erguer no cinema um épico histórico que se espalha por diferentes cenários do século 19 exige uma operação logística que Tabajara Ruas, 75 anos, encara com renovada disposição a cada novo projeto.
O cineasta e escritor adapta em seu roteiro o ensaio-reportagem A Cabeça de Gumercindo Saraiva, que escreveu com o jornalista Elmar Bones, publicado em 1997. A trama se passa ao final da Revolução Federalista (1893 – 1895), quando o capitão Francisco Saraiva, vivido por Leonardo Machado, cruza o Rio Grande do Sul com sua tropa para recuperar a cabeça de Gumercindo Saraiva, um dos comandantes dos insurgentes maragatos, cortada após seu sepultamento pelas tropas legalistas e levada como troféu pelo major Ramiro de Oliveira (Murilo Rosa) ao governador Júlio de Castilhos.
Em 2015, Tabajara voltou ao tema incorporando elementos de ficção no romance Gumercindo. O filme, explica o autor, combina os registros históricos com a incursão ficcional em torno da mitologia que fez do personagem um fantasma a assombrar os pampas.
– Nunca se soube onde foi parar a cabeça. Entre as várias versões, está a de que ela foi entregue ao Júlio de Castilhos e depois enterrada no porão do jornal A Federação – diz Tabajara.
A trama do longa-metragem acompanha dois núcleos de cavaleiros: os legalistas sequestradores da cabeça do defunto profanado, e os maragatos empenhados no seu resgate. O núcleo insurgente tem no elenco também Marcos Pitombo, Allan Souza Lima, Sirmar Antunes e Rodrigo Ruas. A tropa republicana apresenta os atores Marcos Breda, Marcos Verza e Pedro de Oliveira.
Esse deslocamento por entre diferentes locações exige rigor para ser realizado dentro do orçamento (cerca de R$ 3 milhões) e do cronograma. O longa conta com recursos do edital Prodecine do Fundo Setorial do Audiovisual.
– É um trabalho pesado em todos sentidos, com muita gente e equipamento de deslocando – diz Tabajara. – Estamos fazendo o filme com menos recursos do que meu longa anterior, Os Senhores da Guerra (2016), que custou mais de R$ 4 milhões e enfrentou alguns problemas de produção, pois era um projeto pensado para dois filmes que virou um só. A Cabeça de Gumercindo Saraiva, com todas as exigências que impõe um filme de época, é mais barato que muito filme com tramas contemporâneas que se faz no Brasil.
Autor de livros referenciais como Os Varões Assinalados (1985) e Netto Perde Sua Alma (1995), Tabajara estreou no cinema adaptando, com Beto Souza, este segundo romance, no premiado filme de 2001. Assinou depois os longas Netto e o Domador de Cavalos (2010) e Os Senhores da Guerra, além do documentário Brizola: Tempos de Luta (2008).
– Faço filmes históricos pelas circunstâncias e porque gosto desse desafio estético. É bem mais complicado recriar uma época do que colocar a câmera para filmar essa nossa realidade. Mas tenho dois projetos com tramas contemporâneas: Esperando John Wayne é uma história minha e do Nei Duclós sobre três desajustados de classe média que vão assaltar a casa de um milionário que eles acham parecido com o John Wayne. E Medolândia, que escrevi com meu filho Tomás Walper Ruas, é uma história de terror que pode virar filme ou série de TV.
A literatura, diz Tabajara, fica de lado quando seu foco é o cinema.
– Não escrevo nada há um ano. Mas já tenho pronto, em fase de revisão, Você Sabe de Onde Eu Venho, em que conto a história do Brasil durante a II Guerra por meio da Força Expedicionária Brasileira (FEB). É a versão ampliada do material que publiquei em capítulos (em 2012) aí na Zero Hora.