Um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira, Nelson Xavier morreu no último dia 10 e deixou como filme testamento Comeback, que estreia hoje nos cinemas. E, a exemplo de sua premiada atuação em A Despedida (2014), o ator apresenta neste derradeiro trabalho – coincidentemente também com título simbólico – uma entrega vigorosa e comovente.
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Érico Rassi, que vem de uma destacada trajetória no curta, evoca um clima de faroeste numa pequena cidade não identificada – as locações foram em Anápolis (GO), terra natal do cineasta –, que espelha situações recorrentes em lugares com altos índices de violência e pobreza.
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Xavier é Amador, um veterano matador de aluguel que um ferimento no olho e uma instável pacificação na região lançaram numa melancólica aposentadoria.
Os cadáveres que empilhou e as chacinas que promoveu lhe deram fama e são razões do orgulho que renova no álbum com recortes do noticiário policial. O chefão do crime local colocou Amador para controlar máquinas de jogatina em bares decrépitos, serviço que cumpre a contragosto.
Mas Amador sente o dedo coçar ao ser procurado pelo neto de um ex-colega de ofício. O rapaz quer ser seu discípulo. O pistoleiro, mais do que ensinar, revigorase com a oportunidade de acertar contas pendentes. Comeback – a expressão na trama é uma gíria para criminoso que volta à ativa – mostra Rassi como um diretor seguro no exercício de múltiplas referências ao cinema de gênero.
Muito bem filmada, com um bom trabalho do elenco e soluções criativas para as cenas de ação e tensão, a produção tem como ponto frágil o roteiro, que não explora plenamente o potencial de um personagem complexo como Amador. Parodoxalmente, esse homem mergulhando na decrepitude decide promover a morte não mais por razão de sobrevivência, mas para mostrar seu apego à própria vida que se esvai.
Comeback
De Érico Rassi
Drama, Brasil, 2017, 82min, 16 anos.
Estreia quinta nos cinemas
Onde assistir: Espaço Itaú, GNC Moinhos, GNC Moinhos e Guion Center.
Cotação: bom
