Fama, dinheiro e sucesso nem sempre se traduzem em felicidade. Que o diga Kika K., jovem atriz em ascensão que parece ter a vida perfeita, com papel de destaque em novela e estrela de campanhas publicitárias, um namorado galã e que é idolatrada pelos fãs. Apesar dos holofotes, ela sente-se triste e ainda precisa lidar com um distúrbio de ansiedade. Essa crise pessoal é a trama de TOC – Transtornada, Obsessiva, Compulsiva, filme estrelado por Tatá Werneck que estreia hoje no circuito de cinemas.
Reconhecida por sua veia cômica, a atriz aparece diferente nesse papel. Embora classificado como comédia, o longa tem doses de drama, e Tatá se mostra muito bem nesse outro gênero. Em TOC, ela retoma a parceria dos tempos de Comédia MTV – programa exibido entre 2010 e 2012 – com os diretores Paulinho Caruso e Teodoro Poppovic. E essa espécie de volta ao passado lhe é muito benéfica. A grande qualidade da produção é não ser mais uma comédia brasileira, dessas com humor rasgado e que levam multidões às salas. Cheio de graça, mas com crítica, o filme reflete sobre a onipresença das celebridades, que conquistam legiões de seguidores, mesmo que muitas vezes sejam pessoas vazias.
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– Queríamos falar sobre esse TOC bem atual de sempre querer controlar tudo na vida. Essa história fala comigo, mostra a minha dor e a de pessoas que conheço. Essa dor que é precisar fazer rir mesmo quando se está infeliz, e essa cobrança de estar sempre bem-humorada e disponível. Como somos nerds, queríamos um filme que gostássemos de assistir, sem nos preocuparmos com a bilheteria – afirmou Tatá na apresentação do longa a jornalistas na última semana, no Rio de Janeiro.
A fala da atriz resume bem o espírito da obra. O roteiro foge do padrão do gênero no país, com piadas que funcionam sem forçar e bons diálogos, e a edição caprichada, com o diferencial da pegada videoclíptica, recurso para mostrar o que passa na cabeça da personagem.
É um filme que provoca reflexão. Por trás das aparências bonitas, Kika K. precisa lidar com um fã obsessivo (Luis Lobianco), o namorado galã sem noção (Bruno Gagliasso) e os inúmeros compromissos profissionais marcados pela exigente empresária (Vera Holtz, em mais uma atuação fora de série). Além disso, tem que conviver com seu Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Mas tudo ganha outra perspectiva quando encontra Vladimir (Daniel Furlan), um nerd e despretensioso atendente de livraria que ela conhece no lançamento de seu livro de autoajuda.
Raul Seixas na trilha e improviso são destaques
Uma das melhores sequências de TOC é quando Kika K. cumpre sua agenda lotada ao som de Ouro de Tolo, de Raul Seixas (Eu devia estar sorrindo e orgulhoso / Por ter finalmente vencido na vida / Mas eu acho isso uma grande piada / E um tanto quanto perigosa). Aliás, a trilha sonora também garante parte do humor do filme.
– É uma comédia acessível a todos, divertida, pop e com um tema relevante: a busca pela felicidade. Tem absurdos, mas com uma linha na realidade. Tentamos tirar o humor do drama. A comédia também precisa ter profundidade – explicou o diretor Teodoro Poppovic, que faz sua estreia em longa-metragem ao lado de Caruso.
Para coroar essa boa estreia, os dois ainda contam com a participação superespecial de Ingrid Guimarães, que vive ela mesma e uma espécie de rival da personagem de Tatá. A passagem das duas na sala de espera de um canal de televisão enquanto esperam pelo resultado de um teste para protagonizar a próxima novela das nove é uma das mais divertidas da produção. Detalhe: foi totalmente filmada de improviso.
* A jornalista viajou a convite da distribuidora do filme