O espelhamento pode parecer um disparate, tamanha é a distância que separa esses dois filmes com pontos de partida parecidos: o recém-chegado aos cinemas Beleza Oculta e Manchester à Beira-Mar, que concorre, entre outras categorias, ao Oscar de melhor filme, direção e ator.
Temos como protagonista um homem abalado por um grande trauma e que optou por morrer em vida, arrastando-se como um zumbi distante de qualquer reação emocional. Mas esse sujeito será, a horas tantas, obrigado a confrontar seus fantasmas, reconectar-se com o mundo e, sobretudo, com a ex-mulher – o tal trauma provocou o fim do casamento. Mas tudo que é contenção e densidade em Manchester à Beira-Mar transborda em excessos e equívocos no desenrolar de Beleza Oculta.
Com 14 indicações, musical "La La Land" desponta como favorito ao Oscar 2017
Diversidade racial volta a ganhar destaque nas indicações ao Oscar
Will Smith, em mais uma tentativa de mostrar que pode dar conta de um papel dramático – e ele saiu-se bem em filmes como À Procura da Felicidade –, vive Howard, dono de uma bem-sucedida agência de publicidade de Nova York. O personagem é apresentado discursando a sócios e funcionários sobre as palavras que lhe inspiram criativamente: tempo, amor e morte.
Corta para alguns anos à frente. Whit (Edward Norton), Claire (Kate Winslet) e Simon (Michael Peña), sócios e grandes amigos de Howard, estão apreensivos. Uma grande decisão precisa ser tomada, e o sujeito não se recuperou da perda que sofreu. Vive isolado e desconectado do mundo. Quando aparece no trabalho é para montar e desmanchar uma enorme estrutura com peças de dominós. Uma detetive contratada para monitorar seus passos descobre que ele anda escrevendo cartas endereçadas ao tempo, ao amor e à morte, cobrando desses elementos os reveses que sofreu. Pirou de vez, é a constatação.
Vem de Whit a ideia mirabolante que poderia fazer o filme funcionar melhor no registro da comédia dramática: contratar atores que se passem por esses três elementos e interajam com Howard, com o intuito de, fazendo crê-lo na materialização do fantástico, trazê-lo de volta ao mundo real. Na verdade, o trio também tem interesse financeiro no gesto aparentemente nobre, pois a agência está ameaçada de ir à bancarrota sem o comando de seu líder.
Entram em cena, então, Brigitte (Helen Mirren), Amy (Keira Knightley) e Raffi (Jacob Letimore), atores de uma pequena companhia teatral em busca de financiamento, encarnando, respectivamente, a Morte, o Amor e o Tempo. Cada um eles irá confrontar Howard em situações que, no plano dos organizadores, justificarão legalmente a saída dele da agência.
Caso aproveitasse esse ótimo elenco – que faz o que pode para fazer o barco andar fazendo água – no tom da engenhosa farsa que se ensaia, Beleza Oculta talvez funcionasse melhor. Mas o roteiro assinado por Allan Loeb prefere investir em pegadinhas sentimentais tolas que mais confundem do que provocam o espectador, tomando o rumo de um redentor conto moral com xaroposas frases de efeito e lições de vida – a trama se passa às vésperas do Natal, e talvez aproveitar o clima gelado e o espírito crítico desarmado do público norte-americano sejam intencionais.
Aqui no calor dos trópicos, porém, as boas intenções desandam na pieguice e naufragam no injustificável golpe baixo aplicado no espectador na reta final da história. O deus ex-machina que surge para tentar apaziguar expectativas de crentes e incréus provoca ações e reações sem pé nem cabeça, capazes de irritar a todos, pela falta de convicção do diretor e roteirista sobre que filme tentaram fazer: dramalhão familiar, comédia dramática ou trama esotérica de autoajuda. Em nenhum registro, porém, conseguem dar liga ao filme.
Beleza Oculta
De David Frankel
Drama, EUA, 2016, 97min, 10 anos. Em cartaz nos cinemas
CÓPIAS DUBLADAS
Cinespaço Wallig 2
Espaço Itaú 5
GNC Praia de Belas 5
CÓPIAS LEGENDADAS
Cinemark Barra 6
Cinemark Ipiranga 5
Cinemark Ipiranga 6
Cinespaço Wallig 2
Espaço Itaú 5
GNC Iguatemi 1
GNC Praia de Belas 5