É um documentário protocolar, quase preguiçoso. Mas de enorme relevância em razão da personalidade que está à frente da câmera dos diretores Noah Baumbach e Jake Paltrow. De Palma, em cartaz na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro, apresenta o cineasta norte-americano Brian De Palma comentando um a um os filmes que realizou em mais de 50 anos de carreira, entre eles um punhado de clássicos – a listagem é ilustrada por preciosas e raras imagens de bastidores.
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Com os amigos Steven Spielberg, Martin Scorsese, George Lucas e Francis Ford Coppola, De Palma integrou a turma da Nova Hollywood, responsável por injetar fôlego e vigor no cinema americano no final dos anos 1960. Sua trajetória tomou forma quando, ainda um estudante vocacionado para as ciências, assistiu a Um corpo que cai (1958), de Alfred Hitchcock, e mergulhou na cinefilia. Realizou curtas com amigos, participou de exercícios coletivos e estreou oficialmente em longa com Saudações (1968), estrelado por outro futuro gigante da turma: Robert De Niro – pouco antes, apresentou o longa de horror Murder a la mod, que teve um lançamento quase invisível, chegou a ser dado como perdido e reapareceu décadas depois.
Se em Saudações era visível a influência em De Palma de outra forte influência na sua formação, a Nouvelle Vague (Godard em particular), foi Hitchcock que moldou sua filmografia de De Palma, de forma direta ou diluída na combinação de suspense psicológico e violência vista em títulos como Irmãs diabólicas (1972), O fantasma do paraíso (1974), Carrie, a estranha (1976), Vestida para matar (1980) e Um tiro na noite (1981). Ainda em sua fase mais vigorosa, assinou o potente remake de Scarface (1983) e o sucesso Os intocáveis (1987) e provocou desconforto com Pecados de guerra (1989), no qual cutucou o lado perverso das intervenções militares dos EUA em quintais alheios – tema retomado em Redacted (2007).
A revisão destaca o aspecto colaborativo que marcou a geração da Nova Hollywood. Uns davam palpites nos filmes dos outros, dos quais costumavam ser os primeiro espectadores. De Palma repassou a Scorsese o roteiro de Taxi driver (1976) por achar o projeto mais adequado ao estilo do amigo, e comandou com Lucas um teste de elenco conjunto para Carrie e Guerra nas estrelas (1977) – por instantes, Amy Irving foi a Princesa Leia, papel que acabou consagrado por Carrie Fisher.
Entre obras memoráveis e alguns equívocos, caso da malfada adaptação do sucesso literário A fogueira das vaidades (1990), o balanço faz brilhar um autor que, mesmo trabalhando sob a pressão de grandes estúdios de Hollywood, nunca abriu mão do risco, da provocação e do sangue quente como elementos de combustão artística. Está com 76 anos e com novos projetos no horizonte
Em conjunto com a exibição de De Palma, a Sala P.F. Gastal está apresentando, com entrada franca, uma mostra com filmes do diretor e títulos que o influenciaram. Confira aqui a programação.
De Palma
De Noah Baumbach e Jake Paltrow.
Documentário, EUA, 2015, 109min. Em cartaz na Sala P. F. Gastal, com sessões às 15 e 19h de quinta e sexta, e às 15h e 17h de sábado e domingo.