Depois de chorar e rir no sábado com os dois longas brasileiros da competição do 44º Festival de Cinema de Gramado, o público assistiu nesta segunda-feira a um thriller de suspense, um drama e uma tragédia – tudo em um só filme. O silêncio do céu (SP), único longa exibido na terceira noite do certame serrano, conjuga diferentes gêneros para contar a história de um casal vivido pela atriz brasileira Carolina Dieckmann e pelo ator argentino Leonardo Sbaraglia. Apesar de rodado em Montevidéu, falado quase todo o tempo em espanhol e com um elenco multinacional – que inclui a uruguaia Mirella Pascual, do filme Whisky (2014), e o argentino Chino Darín, filho do astro Ricardo Darín –, O silêncio do céu não é uma coprodução internacional: segundo o produtor Rodrigo Teixeira, o trabalho foi rodado totalmente com dinheiro brasileiro.
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Na história, Carolina vive uma brasileira casada com um uruguaio, com quem tem um casal de filhos. O marido (Sbaraglia, de Relatos selvagens) acaba de voltar para a confortável casa da família depois de uma reconciliação. Um terrível episódio, porém, vai perturbar o complexo relacionamento de Diana e Mario: a mulher é estuprada dentro do próprio lar por uma dupla de homens. Diana decide manter segredo sobre o ato, sem saber que Mario assistiu ao episódio quando chegava na residência e não a socorreu, ficando paralisado por suas fobias. A partir daí, o clima de tensão entre os dois, que silenciam um com o outro a respeito do que sabem, vai se tornando insuportável, ao mesmo tempo em que Mario começa a seguir os violadores de sua esposa.
– É uma descida ao inferno moral dos personagens, a construção de uma degeneração da relação de um casal em um mundo em violência constante – resumiu o roteirista Caetano Gotardo na coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira.
Realizador dos aplaudidos filmes Trabalhar cansa (2011) e Quando eu era vivo (2014), o diretor Marco Dutra imprimiu em O silêncio do céu um clima hitchcockiano, que evoca clássicos do mestre do suspense como Um corpo que cai (1958).
– Aprendi a ver cinema assistindo a filmes de gênero. Quando eu era criança, ia na locadora e adorava ver os filmes divididos em prateleiras: suspense, terror, ficção científica. Aquilo não era redutor para mim, era uma forma de classificar os filmes que eu queria ver ou não naquele dia. Quando se faz suspense, é inevitável usar a gramática estabelecida por Hitchcock – disse o cineasta a Zero Hora.
Mais conhecida por seu trabalho na televisão, Carolina Dieckmann tem talvez a melhor interpretação de sua carreira em O silêncio do céu. A bela estrela dá conta de encarnar as nuanças de sua personagem, expressando suas angústias e julgamentos mais pelo olhar do que propriamente pelas palavras – durante quase todo o filme, aliás, Carolina fala em espanhol.
– A maneira como a Diana lida e se comporta com a agressão que sofreu é extremamente inquietante. Você nunca sabe exatamente o que ela está sentindo e o que quer passar. Para mim, como atriz, foi um personagem muito gostoso de fazer, muito bom de passear por suas emoções – contou Carolina em entrevista exclusiva a ZH.
O silêncio do céu entra em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 22 de setembro.