Em 2013, Philippe Le Guay veio ao Brasil divulgar no Festival Varilux o filme Pedalando com Molière, estrelado por Fabrice Luchini e Lambert Wilson. O diretor voltou ao país na semana passada para mostrar no mesmo evento seu novo longa, Flórida, comédia dramática protagonizada por outra dupla de consagrados intérpretes franceses: Jean Rochefort e Sandrine Kiberlain.
Leia mais:
Festival Varilux traz ao Brasil títulos da recente safra do cinema francês
"Invocação do Mal 2" leva mais de um milhão de brasileiros ao cinema
Diretor de "Downton abbey" é contratado para filme sobre Rolling Stones
Flórida acompanha o relacionamento de um octogenário industrial aposentado e com problemas de memória com a filha mais velha, bem sucedida executiva que administra os negócios da família. Com um filho já adulto e iniciando um novo relacionamento amoroso, Carole (Sandrine) trava uma batalha diária e desgastante para cuidar de Claude – interpretado pelo sempre ótimo Rochefort, astro de filmes como Cartouche (1962), O fantasma da liberdade (1974) e O marido da cabeleireira (1990).
*Roger Lerina viajou a convite do Festival Varilux
Leia entrevista com o cineasta e roteirista francês Philippe Le Guay:
Por que você escolheu filmar essa história?
Senti a necessidade de contar a história de um personagem idoso, e não para dar um papel a um ator mais velho. O protagonista, Jean Rochefort, tinha dito há cinco anos que não iria mais atuar no cinema. Quando escrevi essa história, não estava pensando nele. Mas chegou um momento em que a gente achou que tinha de oferecer o papel para ele. Então, ele me disse: “Eu não vou fazer o filme, mas, se quiser, você pode ir lá em casa na segunda-feira tomar um chá”. E, durante seis meses, todas as semanas eu ia passar uma tarde com ele. Conforme o roteiro ia evoluindo, ele me dizia: “Eu não quero fazer o teu filme, mas, se eu fizesse, gostaria de mudar isto e aquilo”. E assim ele acabou fazendo o filme (risos).
Como foi dirigir Jean Rochefort?
No set, você não dirige um ator. Você pode lhe dizer algumas coisas, como baixe os olhos, faça mais rápido etc. O verdadeiro trabalho de direção esteve na construção do personagem durante esses seis meses conversando com ele. Eu aprendi a conhecê-lo, e vice-versa. Assim, se instaurou uma relação de confiança entre nós, e eu mudei depois algumas coisas no personagem. Normalmente, um ator quer ser amado por causa de personagens adoráveis, simpáticos, gentis. O que é formidável no caso do Jean é que ele não é assim mesmo. Muitas vezes, ele me sugeriu que eu explorasse um pouco mais a violência de seu personagem, por exemplo.
Como você trouxe Sandrine Kiberlain para essa parceria?
Eu já tinha trabalhado com ela em As mulheres do sexto andar (2010). Ela também tinha muita vontade de fazer um filme com Jean Rochefort, porque eles se conhecem já há 15 anos. Jean é um pouco quase como um pai substituto para Sandrine. Então, já havia essa cumplicidade entre eles na vida. A personagem de Sandrine está sempre reagindo ao que o pai faz. Ele é o motor, mas é ela quem recebe a emoção. O que nós tínhamos então que decidir com a Sandrine era o grau de masoquismo dela: qual o momento em que ela iria se revoltar contra o pai? Ela vive uma mulher que venceu na vida, mas cujo problema é o pai. Era preciso mostrar a força da personagem e também sua fraqueza, que é em relação ao pai.
Festival Varilux de Cinema Francês
Diariamente, até o dia 22 de junho, em cinemas de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Pelotas, Santa Maria e Rio Grande.
Acompanhe a programação e horários no site de festival.