Para compor o acervo inicial do primeiro museu de arte do Estado, o Margs, seu criador, Ado Malagoli, recolheu quadros que decoravam paredes de prédios públicos, como o Palácio Piratini e a Biblioteca Pública do Estado. Em 1955, na Casa das Molduras, galeria que funcionava na Rua da Praia, o pintor e então diretor da Diretoria de Artes da Secretaria Estadual de Educação e Cultura exibiu uma pequena coleção ao público, a maioria pinturas. O Margs, que completa 70 anos em 2024, só existia em decreto oficial, ainda não tinha sua sede.
Malagoli procurava adquirir trabalhos de artistas gaúchos, de forma que o Margs se estabelece não como um museu contemporâneo ou de arte internacional, mas, essencialmente, um lugar onde se encontram os principais nomes das artes plásticas no Estado. Em 10 de junho de 1957, é inaugurado oficialmente no foyer do Theatro São Pedro, palco já nacionalmente famoso e que serviria de sede provisória até o teatro fechar para reformas, na década de 1970.
— Ado fez compras consistentes de artistas brasileiros do século 19 e início do século 20, brasileiros contemporâneos, gaúchos do século 19 e início do 20 e gaúchos contemporâneos, além de estrangeiros. Ele é rigorosamente sistemático — diz Paulo Gomes, crítico, historiador de arte e professor do Instituto de Artes da UFRGS.
Entre as obras icônicas de grandes nomes da arte brasileira, há O Menino e do Papagaio (1954), de Cândido Portinati, e Colonas (1941) e Composição (1941), ambas de Di Cavalcanti. Todo o conteúdo artístico e documental do Margs pode ser acessado no site do museu graças à digitalização do acervo, projeto concretizado em 2021.
— A digitalização amplia o acesso e o alcance desse acervo, ao mesmo tempo assegurando sua preservação e a perpetuação em meio digital — diz Francisco Dalcol, diretor-curador do museu desde 2019.
É uma modernização que faz do Margs não somente um museu para fruição de arte, mas também fonte de pesquisa capaz de ser acessada a qualquer momento, de qualquer lugar do mundo.
— Se um museu não tiver acesso digital, as coisas se tornam precárias. E outra coisa: a digitalização desses documentos coloca o Margs na história dos grandes museus do mundo com documentação virtual. Um pesquisador lá da França poderá estudar a obra de um artista daqui. Foi um dos projetos mais importantes feitos pelo Margs nos últimos anos — elogia Paulo Gomes.