Uma arte tridimensional em plena harmonia com o ambiente, alinhada entre a percepção do instável e do exato. Pela primeira vez, Artur Lescher tem uma grande mostra individual em Porto Alegre, apresentando em Observatório uma retrospectiva de suas mais de três décadas de carreira, além de sete peças exclusivas. O Farol Santander (Rua Sete de Setembro, 1.028) recebe, até 24 de julho, 28 peças do artista, que já expôs nos Estados Unidos, Alemanha, França, Argentina e Uruguai.
Pensada de maneira a dialogar com a arquitetura do Farol Santander, logo na entrada Observatório apresenta a monumental Pivô (2014), uma espécie de pêndulo de 310 quilos desenvolvido a partir de materiais como latão e cabo de aço. A escolha não foi feita por acaso: segundo Lescher, a obra consegue conversar plenamente com os elementos da construção do prédio. Todo esse peso tampouco é exagero: na intenção de brincar com supostas contradições, é por meio da suspensão das obras que o artista busca provocar justamente a percepção de leveza.
— Se eu tivesse de falar de leveza, poderia falar de uma pena. Mas também posso falar de um Boeing 747, que pesa toneladas. O fenômeno de uma coisa pesada poder voar é muito mais dramático, acho legal fazer uma coisa improvavelmente leve — afirma.
Os materiais das peças também são uma característica do artista, conhecido por preferir trabalhar com o inusitado. Embarca no aço, linho de lã, madeira e mais. Mas essa é uma postura que ele adotou lá atrás, quando recém desenhava e percebeu que o carvão "conversava" de uma forma diferente do grafite, por exemplo. No final, esse pensamento acabou atravessando sua carreira.
— A construção do trabalho se alimenta muito da matéria que é feita. A matéria não é só suporte do trabalho, também transmite, fala, esfria, esquenta, reage com o todo. Por isso, alguns trabalhos dizem: "Eu seria mais feliz com esse material do que com aquele". É esse o exercício que eu gosto de fazer — explica.
Proposta
Observatório não é somente o título da mostra, mas o título de uma das peças exclusivas. Feita em granito, dialoga com uma das propostas de Lescher de trazer elementos que lembrem instrumentos de observação, imprimindo um olhar científico-ficcional.
— Os trabalhos estão instalados de um jeito que provoca um problema para o espectador. Ele tem que deparar com aquilo e entender como é feito. Gostaria que a pessoa desse a viajada dela. Construo o trabalho de um jeito que garante que vá por um caminho que eu quero, mas não é conclusivo. Acho que nenhuma arte é — finaliza o artista.
Para visitar a exposição, é necessário comprar ingresso de acesso ao Farol Santander a R$ 15 em sympla.com.br. O espaço pode ser visitado de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 11h às 18h.