Correção: a liberação para a recolocação do monumento foi dada pela Fraport, e não pela Infraero como publicado entre 15h34min de 11 de janeiro e 12h23min de 12 de janeiro. O texto já foi corrigido.
Tratado com toda a pompa que uma celebridade exige, o Monumento ao Laçador volta ao seu tradicional sítio, mas com uma grande equipe para assessorá-lo. Por volta das 14h20min desta terça-feira (11), a estátua de bronze deixou o galpão onde se hospedou por mais de cem dias para ser restaurada, na Avenida Severo Dullius, 1.995, rumo a Avenida dos Estados, onde é a sua residência fixa. Porém, ela vai ficar coberta até o fim dos reparos.
A chegada ocorreu às 14h40min. A viagem, que demorou cerca de 20 minutos, foi monitorada pela EPTC, que disponibilizou oito agentes para o processo. E, após a liberação da Fraport, necessária devido à proximidade do Aeroporto Internacional Salgado Filho, o monumento começou a ser recolocado exatamente às 16h.
O Laçador, por seu tamanho avantajado — 4,4 metros de altura —, teve de ser transportado em um caminhão-guincho, deitado. E mesmo que pingo nenhum aguente carregar o gauchão, a cavalaria do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) esteve presente, fazendo a escolta deste que é um dos símbolos rio-grandenses. No total, oito cavalgantes acompanharam a estátua inspirada em Paixão Côrtes.
A operação de içamento para colocar o Laçador de volta ao seu sítio foi concluída às 16h14min, sob aplausos dos presentes, restando apenas a fixação da estátua, que foi terminada às 18h20min. Um dos responsáveis pela restauração, Ricardo Jaekel afirmou que, devido à extração do concreto que foi colocado dentro do monumento anteriormente, a estátua agora está mais leve, pesando cerca de 3 toneladas. A aferição exata ainda será realizada com a ajuda de um escaneamento da obra.
Mesmo com o Laçador de volta à sua casa, ele ainda não está totalmente pronto. Segundo Jaekel, cerca de 10 dias ainda serão necessários para que a estátua esteja completamente finalizada — até lá, o banner com a imagem do monumento seguirá erguido, ocultando a estátua. No sítio, com a luz do dia, será possível verificar as soldas e as possíveis imperfeições no monumento e, assim, fazer os pequenos reparos necessários para que, então, sejam passadas duas camadas de cera para proteger este patrimônio dos gaúchos.
— Está sendo muito gratificante e, ao mesmo tempo, estressante trabalhar nesta obra. Os sentimentos andam juntos. É o monumento mais importante do Estado. E ser um dos responsáveis por isso é algo muito prazeroso e tenso. Tenho uma enorme responsabilidade e, como pelotense, assim como o Caringi, ainda tem a família dele que deposita uma grande confiança no meu trabalho — explica Jaekel.
Acompanhado de perto
Enquanto a equipe responsável pela recolocação da estátua no lugar trabalhava, operando dois guindastes e dois caminhões, os motoristas que passavam pela Avenida das Indústrias buzinavam e, muitos deles, gritavam pelo Laçador. Enquanto isso, ambulantes vendiam bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil nas proximidades do monumento, buscando faturar uns pilas em cima do sentimento gaudério que tomava conta do lugar.
O coordenador da 1ª Região Tradicionalista, Luis Henrique Lamaison, por exemplo, não rejeitou o convite da prefeitura de Porto Alegre para levar o Laçador até o local e liderou a cavalaria do MTG, reunindo oito cavalarianos que não se amedrontaram com o sol que castigava na tarde desta terça-feira, com termômetros marcando 32ºC.
— É muito importante o Laçador para o Movimento Tradicionalista Gaúcho, para a história do Estado e de Porto Alegre, que tem ele como recepcionista para os turistas na entrada da cidade. É o cartão-postal. E, para nós, ter a oportunidade de fazer esse translado, é uma honra muito grande. E o calor? Bom, foi complicado, mas nós gaúchos estamos acostumados com isso. Sempre na lida — reforçou Lamaison.
Para o secretário municipal de Cultura, Gunter Axt, o tratamento dado ao Laçador, que estará revitalizado para o aniversário de 250 anos da Capital, em março, mostra o engajamento da comunidade, dentro de uma parceria público-privada, na preservação de seu patrimônio histórico-cultural. E, além disso, ele enfatiza que o monumento, além de ser importante para Porto Alegre, é ainda mais bem-quisto pelos moradores do Interior que visitam a cidade, que são recebidos pela figura que os representa.
— Se o Laçador não tivesse sido levado para a "UTI", nós corríamos o risco de perdê-lo em uma ventania dessas que acontecem em Porto Alegre e, assim, o prejuízo iria ser definitivo. Felizmente, isso não aconteceu e conseguimos realizar um serviço de grande qualidade técnica neste que é um ponto turístico da cidade — explica o secretário, destacando que um edital foi aberto para que uma empresa adote o sítio onde vive o monumento e, assim, ele fique sempre bem conservado.
De acordo com Zalmir Chwartzmann, coordenador do Projeto Construção Cultural — Resgate do Patrimônio Histórico e que trabalha há mais de 50 anos no Rio Grande do Sul, acumulando centenas de projetos em seu currículo, nada se equipara com o prazer de ser um dos responsáveis pelo restauro do Laçador.
— Nada disso aconteceria se o Sinduscon-RS, que é o patrono deste projeto, não tivesse tomado a decisão política de investir no patrimônio histórico. Vai ser uma alegria para a cidade receber em seu aniversário de 250 anos este símbolo restaurado — apontou Chwartzmann.
Interrompendo as suas férias para recepcionar o Laçador em sua casa, a secretária de Cultura do Rio Grande do Sul, Beatriz Araújo, se disse orgulhosa como pelotense — como o criador da estátua, Antônio Caringi — de ver o monumento restaurado e sendo exaltado pelo Estado. Ela ainda detalha que ver esta obra retornando para casa reforça a importância da Lei de Incentivo à Cultura do Estado, responsável por dar a isenção de quase R$ 1 milhão em ICMS para que o restauro ocorresse.
— É o fortalecimento das política públicas que permite que um projeto dessa grandeza possa ser realizado e, por isso, estou muito feliz hoje — conta a secretária.
A restauração
Os problemas no monumento criado por Antônio Caringi, tombado como patrimônio histórico de Porto Alegre em 2001, são conhecidos desde 2016. Mas foi em março de 2017 que uma pesquisa preliminar deu o ultimato: era necessário que os reparos fossem realizados dentro de uma década, antes que a estátua corresse o risco de desabar. Participaram da análise a engenheira metalúrgica Virginia Costa e o restaurador francês Antoine Amarger, autoridade mundial no assunto.
Em 2021, finalmente a ideia saiu do papel. Viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul, a proposta de restauro faz parte da plataforma Resgate do Patrimônio Histórico, criada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS). Segundo a prefeitura, há investimento privado de R$ 803 mil por meio do mecanismo cultural, além de um aporte do executivo da Capital de cerca de R$ 90 mil.
Responsável técnica pelo projeto, Verônica Di Benedetti afirma que as rachaduras que infligiam o monumento foram consequência de um erro: em 2007, quando a estátua deixou o cenário da Avenida Farrapos com a Avenida Ceará e passou a integrar a Avenida dos Estados, obreiros teriam colocado argamassa de cimento com resto de tijolo dentro do monumento, até a altura da bombacha. Exposto em área externa, o material foi trabalhando ao longo dos anos e, em dado momento, começou a se romper.
Para resolver o problema, o Laçador foi aberto para que restauradores retirassem o cimento de dentro dele. Além disso, o monumento ganhou uma estrutura de aço inoxidável para reforçar sua sustentação, teve suas fissuras fechadas com soldas e recebeu uma pátina para conservação.