Quem passou pela Esquina Democrática, no centro da Capital, no fim da tarde desta quarta-feira (27), viu — ou não — a performance Camaleões, promovida pelo 28º Porto Alegre em Cena. A chance de passar despercebido não configura um problema. O objetivo da intervenção urbana era justamente este: confundir o visível e o invisível.
Assinada pela companhia de dança AntiStatus Quo, de Brasília, com direção artística de Luciana Lara, o espetáculo é descrito como uma "performance de desaparecimento". A cena artística consiste em atores que, camuflados, ficam mimetizados em meio ao cenário urbano.
Os "camaleões" têm seus corpos cobertos por imagens e palavras recortadas de anúncios publicitários. Se analisados mais sensivelmente, os recortes colados sobre os corpos dos artistas denunciam valores e ideais de vida distorcidos e colocam holofotes sobre as incoerências do capitalismo predatório.
A descrição pode fazer pensar que a imagem é gritante, impossível de não ser vista por quem passa, mas as colagens funcionam verdadeiramente como camuflagens. Em meio à poluição visual da cidade, os corpos se mesclam ao ambiente urbano e podem passar despercebidos pelos transeuntes, mas também chocar os de olhar mais atento.
Na passagem pela Esquina Democrática, o objetivo de confundir o visível e o invisível foi cumprido. Os "camaleões" se fundiram com vitrines de lojas, cartazes colados pelas paredes dos edifícios, manequins igualmente imoveis e produtos expostos por vendedores ambulantes. Houve quem permaneceu indiferente, seguindo o caminhar apressado da hora do rush, mas também quem parou para analisar, tirar fotos e interagir com o que estava acontecendo ali.