O Laçador está prestes a deixar sua atual casa por um período provisório. O trabalho de restauro do portento de bronze de 4,4 metros e 3,8 toneladas começou oficialmente na manhã desta quarta-feira (22), por volta das 9h, quando uma equipe instalou andaimes ao redor do monumento à figura do gaúcho.
Acompanhados pelo engenheiro de execução do serviço de restauro, os trabalhadores estão preparando a estrutura de concreto, na base do Laçador, que será cortada entre a próxima segunda (27) e terça-feira (28) para a remoção. Inicialmente, essa base de concreto será furada em três regiões, na mesma altura, onde serão inseridas barras de ferro de uma polegada. A intenção é que o monumento seja firmado para a retirada, já que ele está preso a uma chapa de aço. Abaixo desta chapa, há outras barras de ferro soldadas junto ao concreto.
— Nosso trabalho também será de investigação nesses próximos três dias. Vamos descobrir quantas são as barras soldadas ali, internamente, onde estão, além de suas profundidades e dimensionamentos. Assim, saberemos exatamente onde o concreto será cortado — explica Zalmir Chwartzmann, coordenador do Projeto Construção Cultural - Resgate do Patrimônio Histórico, responsável pelo restauro.
Após a intervenção inicial, com a inserção das barras e a determinação do ponto de corte, uma gaiola será encostada no monumento em três pontos estruturais - costas, pernas e cabeça - na segunda-feira. Com a estrutura firmada, o corte do concreto será finalizado e, com um auxílio de um guindaste, o Laçador será içado do local e colocado em um caminhão, na horizontal, para transporte.
Restauro
Do sítio em que está, as rachaduras do Laçador são invisíveis. No entanto, outras marcas da ação do tempo podem ser vistas: nas placas de identificação, o letreiro com referência ao escultor Antônio Caringi está ilegível e o nome de Paixão Côrtes e a data de inauguração da estátua estão apagados. No lado oposto, outra placa com inscrições sobre pedra sofre com degradação semelhante. Ainda da praça, são percebidas manchas nos braços e na base da estátua. A adaga, presa a guaiaca, também tem suas cores originais alteradas pela corrosão.
Internamente, o Laçador também precisará de cuidados. Chwartzmann destaca que um dos maiores trabalhos no restauro será a limpeza da região das botas, que estão repletas de concreto por dentro. A "secura" será feita com materiais específicos, a fim de retirar todo o cimento que está junto à estrutura.
Depois desta etapa, o conserto das fissuras existentes e a limpeza do Laçador serão feitos nos próximos 90 dias, o que inclui também um tratamento com pátina química para deixar o acabamento sem cicatrizes permanentes.
— O Laçador será colocado em uma grande estrutura vertical de aço, como um cabide vertical, para que a gente possa enxergar todos os tipos de problemas que ele tem. Temos empresas parceiras prontas para qualquer tipo de restauro, até para a fundição de mais bronze, caso seja necessário — complementa Chwartzmann.
O restauro do monumento também inclui a remodelagem do local em que ele está. Segundo o coordenador, o espaço "não tem um visual digno de sua importância" e a Prefeitura de Porto Alegre já se comprometeu a promover mudanças.
— Vão reurbanizar o “morrinho” em que ele está além de um novo projeto de iluminação. Se pensarmos em outros monumentos ao redor do mundo, como a Torre Eiffel, eles têm uma luz que os privilegiam. Temos essa discussão, que é um projeto bonito e precisa ser entregue de uma forma bacana — acredita Chwartzmann.
Enquanto o Laçador estiver ausente do local, telas acopladas aos andaimes estruturais irão reproduzir a imagem do monumento, para que os visitantes possam continuar admirando a figura. A previsão é que ele retorne ao sítio atual daqui três meses.
Projeto
Os problemas no monumento criado por Antônio Caringi, tombado como patrimônio histórico de Porto Alegre em 2001, são conhecidos desde 2016. Em março de 2017, uma pesquisa preliminar determinou que reparos fossem realizados dentro de uma década, antes que a estátua corresse o risco de desabar.
Além de Chwartzmann, a análise também foi acompanhada pela engenheira metalúrgica Virginia Costa e o restaurador francês Antoine Amarger, autoridade mundial no assunto.
Viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul, a proposta de restauro faz parte da plataforma Resgate do Patrimônio Histórico, criada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS). O custo total da obra é de R$ 900 mil, sendo que R$ 810 mil foram captados por meio da legislação criada pelo governo do Estado.