Obras que compõem o acervo do Museu Julio de Castilhos deixaram o seu lar nesta terça-feira (15) e ficarão fora pelos próximos dois meses, mas por um motivo nobre: elas passarão por um processo de restauração. Neste primeiro lote, treze peças foram selecionadas pela equipe do espaço cultural, devido aos seus estados delicados de conservação.
Segundo a museóloga e diretora do local, Doris Couto, desde 2009, nenhum item que compõe o acervo passou por qualquer processo de restauração, o que, de acordo com ela, “é muito tempo”. Eles ainda estão em tempo hábil para serem preservados adequadamente; porém, é necessário agir rápido.
– Além do segundo lote, que deverá ser enviado para restauro no segundo semestre, vamos atrás de leis de incentivo para restaurar outras peças, documentos e têxteis, que precisam desta atenção – enfatiza Doris.
Para viabilizar este movimento, a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) vem recebendo investimentos por parte do Executivo do Rio Grande do Sul. Recentemente, o governador Eduardo Leite aumentou o limite para fomento ao setor de R$ 41 milhões, em 2020, para R$ 56 milhões, em 2021.
Beatriz Araujo, secretária da Cultura, conta que o museu está recebendo um ótimo tratamento sob os cuidados de Doris e ressalta que a Sedac está dando suporte para o trabalho da museóloga à frente da instituição. Ela ainda enfatiza que esta atenção dada ao local, neste momento, é importante, uma vez que é o museu mais antigo do Estado.
— Nós temos cuidado muito do Julio, tanto das questões macro, como o projeto que prevê a restauração total do museu e também a ampliação, com a construção da reserva técnica, quanto na parte da zeladoria, desde a manutenção predial até o seu acervo. Assim, nós conseguiremos fazer com que o Julio de Castilhos seja celebrado por todos os gaúchos, considerando a diversidade das suas coleções — conta a secretária.
Técnica
Desde julho de 2019, o Museu vem trabalhando para requalificar os espaços de guarda do seu acervo, utilizando uma metodologia do Instituto Canadense de Conservação chamada RE-ORG. Para fazer essa qualificação do local, foi preciso olhar detalhadamente para cada peça e a sua condição.
Seguindo o método da instituição canadense, um item, para ser exposto, precisa estar em sua absoluta condição de conservação. As esculturas de bustos históricos, por exemplo, foram escolhidas por apresentarem quebra de sua camada cromática, que sela a peça. Este tipo de desgaste pode fazer com que a umidade se infiltre
As obras serão restauradas por Adriane Machado e Ricardo Toldo, e, entre elas, estão fotopinturas de Julio de Castilhos e da família, do Ateliê Calegari; duas telas de Lucíolo de Albuquerque, pintor que produziu diversas obras sob encomenda para o governador Borges de Medeiros entre 1898 e 1928; e nove bustos em gesso de personagens históricos, como José Bonifácio, Duque de Caxias, General Osório e Borges de Medeiros.
– Cada peça do museu que conseguimos devolver a uma condição adequada de conservação é uma peça que sabemos que poderá ser usufruída no futuro e que ajudará a construir uma narrativa sobre a história do Estado e, também, do Brasil – completa Doris.
Os bustos, assim que retornarem ao Museu Julio de Castilhos, no final de agosto, serão exibidos ao público por um breve período, com detalhes sobre os processos de restauração, e, logo depois, guardados em uma reserva técnica. As telas, por sua vez, deverão ser expostas na recepção do local.