Com duas exposições inéditas, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) reabre para o público nesta terça-feira (11), em Porto Alegre. A instituição estava fechada para visitas desde dezembro, quando suspendeu as atividades para reformas no prédio. As visitações podem ser com ou sem mediação e devem ser agendadas em sympla.com.br.
Sempre com entrada gratuita, o Margs estará aberto de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (o último acesso do público é às 18h). Já as visitas mediadas têm duas faixas de horário: de terça a sábado, das 11h às 12h e das 14h às 15h. Entre os protocolos adotados, está o limite de 15 visitantes simultâneos (em grupos de até seis pessoas), uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e distanciamento de dois metros.
— Adotamos todas essas medidas sanitárias para oferecer ao público uma visita que possa ser experimentada da forma mais segura possível — afirma Francisco Dalcol, diretor-curador do Margs. — Acho que nós precisamos de arte e cultura, ainda mais em tempos pandêmicos, como um tipo mesmo de respiro da realidade tão dura e adversa que estamos vivendo.
A partir desta terça, estarão em cartaz duas novas mostras: Lia Menna Barreto: A Boneca Sou Eu – Trabalhos 1985-2021, e 5 CASAS, de Bruno Gularte Barreto.
Ocupando todos os espaços expositivos do primeiro andar do museu até o dia 8 de agosto, as obras de Lia Menna Barreto trazem um extenso panorama de sua trajetória. Com curadoria de Dalcol e Fernanda Medeiros, a exposição apresenta objetos, esculturas, sedas, instalações, pinturas e desenhos realizados desde 1985.
Nascida no Rio de Janeiro, Lia cresceu em Porto Alegre e começou sua trajetória no Estado. Aos 62 anos, vive em seu sítio em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, onde segue atuante em seu ateliê. A artista faz parte da chamada Geração 80 no Rio Grande do Sul, tendo inserção no circuito da arte contemporânea brasileira e internacional.
— Ela faz parte de uma geração que foi importante para consolidar as linguagens e práticas artísticas contemporâneas no RS, depois de algumas conquistas de gerações anteriores. São artistas que não trabalham mais só com desenho, pintura ou gravura, mas acionam uma série de linguagens e procedimentos dentro da arte contemporânea — explica Dalcol.
Em seu trabalho, Lia desconstrói e reconstrói brinquedos infantis – bonecas de plástico, bichos de pelúcia, animais de borracha, entre outros – que encontra em lojas populares.
— Lia tem um trabalho muito provocativo, não no sentido polêmico, mas no sentido criativo. Ela acaba apontando para uma espécie de expressividade desses objetos que são industrializados e cotidianos — complementa Dalcol.
Um dos destaques da exposição é Colar, um trabalho em realizado especialmente para a mostra. Instalado na galeria central das pinacotecas, é uma obra de 5 metros de altura por 11 metros de largura composta por centenas de peças e objetos.
Lia Menna Barreto: A Boneca Sou Eu – Trabalhos 1985-2021 integra o programa integra o programa História do Margs como História das Exposições, que resgata a memória do museu, as obras e constituição de seu acervo e a trajetória e produção de artistas que nele expuseram. A artista fez sua primeira exposição individual no Margs em 1985.
Memórias
Já 5 CASAS, de Bruno Gularte Barreto, integra o programa expositivo Poéticas do Agora, dedicado a artistas atuais cuja produção recente tem se mostrado promissora e relevante. O financiamento é da Lei Aldir Blanc, e a realização, da Estranho Produções e da Primeira Fila Produções. Bruno apresenta no Margs um projeto que também envolve a realização de um livro. Um desdobramento em filme também está nos planos. Até 11 de julho, a mostra ocupa a Galeria Iberê Camargo e a Sala Oscar Boeira, no segundo andar.
A exposição apresenta uma série de fotografias, instalações, objetos e vídeos que abordam os conceitos de memória, autobiografia e autoficção. 5 CASAS retrata a busca pelas memórias de infância do artista de 39 anos, transitando por suas complexidades e contradições. As imagens e informações para o projeto foram colhidas em Dom Pedrito, cidade natal do artista.
— Bruno atua nessa interlocução entre artes visuais e cinema, além da fotografia. No caso deste trabalho, tem o componente autobiográfico fortíssimo, que a gente pode chamar de uma investigação artística sobre as suas origens, que o faz refletir sobre quem ele é. Isso faz parte de uma poética muito pessoal, que acaba encontrando um sentido coletivo — analisa Dalcol.
Planos
O retorno da visitação do público ao Margs se dará de modo parcial e gradual ao longo do período de realização das reformas que vêm sendo trabalhadas desde o ano passado. Em março, o Margs obteve o alvará do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI), o qual certifica que o prédio se encontra em conformidade com as resoluções técnicas do Corpo de Bombeiros do Estado.
Agora está sendo finalizada a substituição do sistema de climatização – a atual etapa envolve a instalação dos equipamentos, com os trabalhos concentrados nas casas de máquinas – e restauração arquitetônica da parte superior do histórico prédio. Dalcol destaca que essa parte da reforma ocorre externamente ao museu, em envolver os espaços expositivos, o que permite a liberação para receber o público.
— O retorno ao Margs é parcial porque não estaremos ocupando a totalidade do prédio. Três galerias do andar de cima não receberão exposições nesta reabertura. Ocuparemos 70% do museu agora. A parte que não está sendo utilizada voltará a ser aproveitada nas próximas semanas de acordo com o andamento de uma melhoria do ar-condicionado que está sendo feita. Por prudência, não estamos colocando obras de arte ali — diz Dalcol.
Para as próximas semanas, haverá o retorno da mostra de longa duração Acervo em Movimento, que opera com um modelo de rotatividade de obras das coleções da instituição.
Entre os planos futuros para o Margs, está a remontagem da primeira exposição do museu, realizada em 1955, chamada Arte Brasileira Contemporânea. Também está prevista uma mostra que deve trazer parte da coleção privada de arte contemporânea brasileira do colecionador gaúcho Paulo Sartori. Nos próximos meses, também terá início o projeto Presença Negra no Acervo do Margs, discutindo questões raciais no campo da arte e resultando em uma exposição em 2022. No segundo semestre do ano que vem, o museu deve receber a Bienal de Artes Visuais do Mercosul.