Para quem não conhece Wagner Schwartz, vai se lembrar da polêmica que o artista protagonizou, em setembro do ano passado, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Na ocasião, o coreógrafo se posicionava nu sobre um tatame, manipulando um origami de papel, de forma a sugerir a interação. Em fotos de divulgação, participantes o abraçavam, o mudavam de posição e grande parte o filmava. Tratava-se de uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, segundo o MAM.
A performance La Bête foi encenada novamente, mas dessa vez no Palais de Tokyo, em Paris. O artista foi um dos convidados do festival internacional Do disturb (Perturbe, numa tradução direta) — Schwartz se apresentou nos três dias do evento.
A imagem que rodou as redes sociais e foi responsável pela grande polêmica aqui no Brasil, entretanto, foi a de uma criança que parecia mostrar curiosidade enquanto engatinhava pelo tatame, vendo uma mulher adulta tocar os pés do artista. A mulher incentivava a pequena a participar, a menina ria, tocava rapidamente os dedos dos pés dele e voltava à plateia diante de sorrisos do público. Isso foi o bastante para Wagner ser acusado de pedofilia e, inclusive, precisar prestar depoimento na 4ª Delegacia de Polícia de Repressão à Pedofilia.
O que antes foi motivo de reações incendiárias, agora, transformou-se em um importante capítulo da história de sobrevivência pessoal e artística de Schwartz. Na época, o coreógrafo foi linchado virtualmente, chegando a receber ameaças de morte pela apresentação.
Desta vez, foi o momento de redenção do artista, que pôde apresentar sua obra sem interpretações enviesadas. Segundo o jornal O Globo, em um dos dias de performance, havia uma criança acompanhada dos pais na plateia do Palais de Tokyo, que participou do La Bête sem maiores polêmicas, imitando no chão a coreografia formada pelo corpo do artista nas manipulações.