O Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS) comemora hoje seus 25 anos com a abertura da exposição Alinhando/Desorientando. O que também faz aniversário, porém sem motivo para celebrar, é o sonho da sede própria.
Desde sua criação, em 4 de março de 1992, a instituição estadual está instalada provisoriamente na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ). Com o passar dos anos e dos governos, viveu bons momentos – como a verba de R$ 300 mil do Prêmio Marcantonio Vilaça (2011) para aquisição de obras –, mas também sofreu descaso a ponto de ser desativada.
Hoje, o museu é conduzido pela diretora Ana Aita, apenas uma funcionária e estagiários, que contornam o orçamento inexistente com parcerias e doações.
– Fizemos parcerias com uma loja de tintas para pintar as paredes e uma loja de iluminação – conta Ana Aita.
O acervo, que supera 3,5 mil obras de artistas gaúchos, de outros Estados e de fora do país, cresce principalmente por meio de doações. Porém, a falta de espaço e de condições de conservação limitam sua expansão. Tudo fica guardado em duas salas sem climatização, o que acarreta sérias consequências.
– Muitas obras vão estragar. Para esta mostra, busquei trabalhos doados há bastante tempo que já estavam em condição precária. O nosso clima é complicadíssimo, e o mofo é a primeira coisa que aparece, principalmente em papel. A urgência existe há anos – diz Ana Zavadil, que atua como curadora-chefe do museu de maneira voluntária ao lado da curadora assistente Letícia Lau.
A catalogação completa do acervo é outro sonho suspenso enquanto a transferência de sede é adiada. Durante o verão, as galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, no 6º andar da CCMQ, permaneceram vazias, enquanto era negociada a mudança para o 1º andar do Memorial do RS.
– Ali tudo funcionaria de maneira unificada, o acervo e a parte administrativa ficariam próximos às galerias, mas a negociação não deu certo. E o prédio é cedido pelos Correios. Essa cessão terminaria em 2019, portanto não valeria a pena – relata a diretora.
Foi mais uma possibilidade frustrada numa lista que já incluiu o antigo prédio da Mesbla, onde funciona o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, e o Armazém A6 do Cais do Porto, que recebeu várias exposições apesar da falta de estrutura. Um imóvel público é o atual candidato para receber a sede, mas o endereço não é divulgado pela Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer.
– O MACRS merece um espaço que possa chamar de seu. Sim, tem um imóvel público no meu radar, mas não vou me antecipar porque não quero que a comunidade cultural me veja como um anunciador de intenções – afirma o secretário Victor Hugo.
Diante da indefinição, Ana Zavadil propôs a exposição Alinhando/Desordenando para que o aniversário de 25 anos não passasse em branco:
– Faz tempo que não é feita uma grande exposição de desenho aqui (na cidade). Tinha a ideia de fazer em outro momento, então puxei para esta data.
A mostra apresenta mais de cem obras de 67 artistas. Ana trabalhou com uma concepção expandida de desenho, que contempla histórias em quadrinhos, livro de artista, carimbo e vídeo. Os desenhos vão muito além do papel, ocupando tela, madeira, papelão e até lista telefônica.
Estão na mostra trabalhos que há tempos pertencem ao acervo, muitos deles assinados por nomes consolidados como Maria Lídia Magliani, Milton Kurtz, Mário Röhnelt, Teresa Poester e Antônio Augusto Bueno, além de empréstimos de instituições e de artistas, que colaboraram com obras de Beatriz Hager, Herbert Bender e Andrey Rossi. Ao final da exposição, mais obras deverão entrar para o acervo.
Faça um passeio pela mostra:
Alinhando/Desorientando – Desenhos no MACRS 25 anos
Abertura quinta-feira (23/3), às 19h, nas galerias Sotero Cosme e Xico Stockinger, no 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736).
Visitação entre 24 de março e 23 de abril, de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h. Entrada gratuita.
A exposição: mais de cem desenhos de 67 artistas, entre empréstimos e itens que já integram o acervo do MACRS. A curadoria é de Ana Zavadil e Letícia Lau.