Clara Pechansky fez da figura humana, sobretudo mulheres e músicos de câmara, um traço indelével de sua produção. O clima sereno que marca essas composições torna suas obras facilmente reconhecíveis.
Mas em uma trajetória consolidada como a da artista gaúcha, que está comemorando 60 anos de carreira, são muitos os momentos que ficam para trás à espera de um olhar que os ilumine de modo a encontrar neles novos e ressignificados sentidos. É o caso de Rememórias, exposição que tem inauguração sábado, às 11h, no Margs.
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Nascida em Pelotas, em 1935, e formada pela antiga Escola de Belas Artes da cidade em 1956, Clara se transferiu ainda na juventude para a Capital. Foi aluna de mestres como Aldo Locatelli e Alice Soares, de quem teve lições de pintura e desenho, e também estudou com Glenio Bianchetti, Glauco Rodrigues e Xico Stockinger.
– São artistas que tiveram um papel muito importante na minha vida – diz Clara. – Não só por estudar a técnica, mas, acima de tudo, por eu ter aprendido a me identificar como artista. Com Locatelli, aprendi a postura ética profissional. Essa disciplina ficou em mim, é muito mais do que misturar tintas.
Foi a partir da projeção obtida como ilustradora, especialmente na Editora Globo de Porto Alegre, que Clara tornou-se um nome referencial da arte gaúcha. Armindo Trevisan, Moacyr Scliar e Lya Luft estão entre os que escreveram sobre seu trabalho.
– Eu me considero basicamente uma desenhista que é formada em pintura e que trabalha eventualmente com gravura, desenho, colagem e o que me interessa no momento – diz. – Mas ilustradora, sempre quis ser desde pequena. Por isso, digo que desenho há pelo menos 75 anos.
A ampla exposição no Margs toma todo o segundo andar do museu. Entre as obras, há pinturas, mas a ênfase da curadoria das historiadoras da arte e professoras da UFRGS Joana Bosak e Paula Ramos recai sobre as gravuras e os desenhos.
– Consideramos que a produção mais expressiva e que mais a representa é a gráfica – diz Paula. – Há nesses trabalhos um traço que faz uma ponte entre uma tradição mais acadêmica para uma coisa mais solta que depois ela iria desenvolver.
A seleção de obras se estrutura a partir de cinco personagens da artista: o Mágico, a Dama, o Quixote, o General e o Candidato.
– A Clara tem uma trajetória reconhecida. Por isso, a exposição, que tem um viés retrospectivo, nasceu com o desafio de oferecer algum elemento surpreendente na abordagem. Daí a ideia de trabalharmos com esses personagens, pois eles oferecem um espectro das questões que ela explora e também encarnam um pouco da própria história da Clara – comenta Paula.
Aos visitantes atentos, dois desses personagens poderão saltar aos olhos pela atualidade, mesmo que concebidos nos anos 1980: o General e o Candidato. Clara comenta:
– Olhar para esses trabalhos de cunho político nos surpreendeu pela atualidade deles. Qualquer pessoa vai identificar neles a situação política brasileira atual.
Na abertura da mostra, será lançado o documentário Clarita. Com direção de Flávia Seligman, o curta de 20 minutos aborda a vida de Clara e traz depoimentos de artistas.
REMEMÓRIAS
Abertura sábado, às 11h.
Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h. Até 25 de setembro, gratuito. Margs (Praça da Alfândega, s/nº), em Porto Alegre, fone (51) 3227-2311.
A exposição: desenhista, gravadora e pintora, a gaúcha Clara Pechansky celebra 60 anos de carreira com uma exposição estruturada a partir de cinco personagens: o Mágico, a Dama, o Quixote, o General e o Candidato.
Documentário “Clarita”
- Sábado: sessões às 12h, 12h30, 13h, 13h30 e 14h.
- 10 de setembro, 14h: sessão seguida por comentários de Christina Dias, Celso Gutfreind e Mirna Spritzer.
- 14 de setembro, 14h: sessão com painel sobre a obra de Clara Pechansky por Flávia Seligman, Joana Bosak, Paula Ramos e Paulo Gomes.
- 17 de setembro, 14h: sessão seguida por comentários dos artistas Alfredo Nicolaiewsky, Anico Herskovits, Liana Timm e Miriam Tolpolar.
- 25 de setembro, 14h: sessão seguida por comentários de Flávia Seligman, Joana Bosak e Paula Ramos.