Já se disse que o pintor rivaliza com a realidade. Ivan Pinheiro Machado primeiro a capturou com as lentes do fotojornalismo para depois recriá-la com tinta e pincel em um estilo hiper-realista de pintura com o qual criou uma assinatura nos últimos 40 anos.
Nesta terça-feira (17/5), às 18h30min, o Margs inaugura uma grande exposição que pela primeira vez oferece um olhar panorâmico e abrangente sobre a produção desse artista que tem se dedicado a fazer da pintura uma espécie de espelhamento do mundo.
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Conhecido por comandar a L&PM Editores, Ivan formou-se em Arquitetura e trabalhou como fotógrafo e jornalista. Ainda nos anos 1970, começou a se dedicar profissionalmente à pintura, chamando atenção desde cedo pelo apuro altamente realista de suas telas. Logo, despertou atenção de escritores e críticos brasileiros como Millôr Fernandes, Walmir Ayala, Armindo Trevisan e Jacob Klintowitz, alguns dos que se dedicaram a escrever sobre suas obras.
De imediato, suas telas chamaram atenção por remeterem ao estilo de artistas como Edward Hopper, Richard Estes e Ralph Going, todos eles vinculados à chamada pintura hiper-realista. Trata-se de uma vertente pautada pela representação fiel da realidade.
– Mas não me considero hiper-realista – afirma Ivan. – Digo que sou um super-realista, pois busco ir além da hiper-realidade, procurando estabelecer um pequeno drama, à maneira de Hopper, um filósofo da solidão, um poeta da melancolia e das sombras compridas.
As 90 telas agora expostas nas amplas galerias do térreo do Margs, muitas delas buscadas em coleções e galerias, mostram que, mesmo se valendo da realidade, a pintura de Ivan ultrapassa esse registro do real, reinventando-o subjetivamente como ficção.
Estão lá desde as primeiras obras marcadas pela linguagem gráfica dos cartuns e da publicidade, até as pinturas que logo dariam lugar à temática urbana que predomina na produção de Ivan. São telas inspiradas em imagens observadas nas grandes cidades, como Nova York e Paris, representando amplas e detalhistas tomadas urbanas, especialmente do trânsito e das ruas, além de flagrantes de cenas banais do cotidiano, como mesas nas calçadas com garrafas vazias, copos de vinho pela metade e cigarros amassados.
– Sempre estudei, testei e, ao mesmo tempo, fui um obcecado pela representação da realidade, até para poder transformá-la – conta Ivan. – Procuro criar o drama discreto de céus escuros ou nesgas de luz que escapam nos arranha-céus de Nova York, além do amarelo dos táxis contrastando com semáforos, placas, fachadas e vitrines. Tudo isso me fascina pela intensa diversidade de formas e cores.
O apuro técnico para recriar a realidade urbana na pintura, conta Ivan, foi desenvolvido de forma autodidata, mas não sem envolver um aspecto algo obsessivo na busca pelo resultado final.
– Muito disso vem de detalhes que, no final das contas, ninguém percebe, mas que, para quem pinta, são fundamentais.
O efeito são telas que provocam na percepção do observador um embaralhamento entre o que pode ser pintura ou fotografia.
– Talvez esteja aí o mistério da pintura: causar uma estranha e misteriosa empatia com o espectador para que, no final das contas, ele não enxergue mais a realidade, mas, sim, uma pintura – afirma Ivan.
IVAN PINHEIRO MACHADO: RETROSPECTIVA
Abertura nesta terça-feira (17/5), às 18h30min. Antes, às 17h30min, haverá uma conversa com o artista.
Visitação a partir de quarta-feira (18/5), de terça a domingo, das 10h às 19h. Até 19 de junho, gratuito.
Margs (Praça da Alfândega, s/nº), em Porto Alegre, fone (51) 3227-2311.A exposição: nas amplas galerias do térreo do Margs, Ivan Pinheiro Machado apresenta 90 pinturas que mostram seu percurso nos últimos 40 anos, destacando o apuro técnico de sua pintura dentro da vertente hiper-realista.