Conhecer o passado, valorizar as memórias e salvaguardar a história são alguns dos valores que movem o projeto Nossa Gente: Unsere Leute, que possibilitou a realização do inventário do patrimônio cultural do município de Feliz, no Vale do Caí. O projeto foi selecionado no edital FAC Educação Patrimonial, lançado pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul.
O trabalho deu origem ao curta-metragem Eu Gosto de Coisa Velha, dirigido e roteirizado por Boca Migotto. Disponível gratuitamente no YouTube, o documentário mostra o processo de pesquisa do inventário e entrevistas com moradores locais, além de visitar algumas das edificações mais antigas do município, construídas nos séculos 19 e 20, incluindo uma com 170 anos de história!
Realizada pela equipe da Escaiola Arquitetura Rara, especializada em patrimônio cultural, a pesquisa resultou em mais de 30 bens culturais identificados ou inventariados, entre edificações, paisagens naturais, costumes, saberes e celebrações, marcadas pela presença da imigração, preponderantemente alemã. O Carnaval felizense e o Kerb, festejo com duração de três dias em homenagem a Santa Catarina de Alexandria, foram exemplos de celebrações tradicionais identificadas.
Inventariar esses bens materiais e imateriais pode servir de instrumento para que sejam criadas políticas públicas para preservar o patrimônio cultural da cidade, bem como as memórias e a cultura local.
— Trabalhamos com patrimônio cultural como um todo, entendendo que não somente a edificação é objeto de resgate como também as histórias que existiram ali — explica a arquiteta Juliana Betemps, da Escaiola.
— Quando trabalhamos com bens culturais, nós nos conectamos com histórias, memórias, com pessoas — complementa a sócia e também arquiteta Cristiane Rauber.
Um exemplar desses bens que contam a história local é o Casarão Amália Noll, onde funcionava o antigo cinema da cidade, iniciativa de uma mulher pioneira e apaixonada pela arte e que promovia a cultura de Feliz. O prédio foi tombado como patrimônio cultural do município e deve se tornar um espaço cultural, depois do processo de restauro. O projeto já foi aprovado no sistema Pró-Cultura RS e está na fase da captação de recursos.
A Escaiola atua desde 2013 na área da arquitetura de restauração, primando pela preservação do patrimônio material e imaterial. Nos últimos anos, realizou projetos de restauro em edificações como o Convento Franciscano São Boaventura, em Imigrante, o Banco Pelotense do Vale do Caí, em São Sebastião do Caí, e a Estação Férrea Nova Vicenza, em Farroupilha. Atualmente, também vem se dedicando a projetos culturais de pesquisa e educação patrimonial.