Sede de lutas de trabalhadores, a casa localizada do número 1.197 da Rua José do Patrocínio, no limite da Cidade Baixa com o bairro Azenha, em Porto Alegre, tem quase cem anos de história. Sua fachada amarela remonta ao ano de 1922, quando teve sua construção concluída.
De lá para cá, a casa foi residência, foi pensão e, há quase 45 anos, está em posse do Sindicato dos Arquitetos no Estado do RS (Saergs), instituição que fez dela um marco para a categoria dos arquitetos e urbanistas. Construída pela família de Alfredo Rodrigues Teixeira, trata-se de um símbolo do patrimônio da Capital e de lutas de classes que marcaram a história do antigo Areal da Baronesa, região localizada no que, atualmente, denomina-se Cidade Baixa.
Depois de sucessivas mortes na família Teixeira, o prédio acabou em posse do governo federal. Em 1976, foi cedido ao sindicato por meio de convênio com a União. Para ser utilizado, o prédio precisou de uma ampla reforma, que só foi realizada graças ao espírito de colaboração de colegas do sindicato, empresas e do voluntariado de arquitetos que apoiaram o projeto com seu trabalho.
Após a reforma, a “Casinha Amarela”, como é chamada, continuou com seus elementos clássicos do período colonial, com platibandas, vergas retilíneas das janelas e pinhas na ponta das coberturas do telhado que podem ser vistas por quem passeia pelas ruas do bairro histórico. O Saergs firmou sua morada na construção em maio de 1978.
Foi ali, na esquina com a Rua Olavo Bilac, que importantes conquistas para a classe profissional e para a sociedade brasileira foram traçadas. Uma delas é a lei 11.888/2008, a Lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS). Pensada pelos líderes que estavam no Saergs na época (nomes como Clóvis Ilgenfritz da Silva e Newton Burmeister), a legislação estabelece o fornecimento gratuito dos serviços técnicos de profissionais da área de arquitetura e urbanismo a famílias de baixa renda. A Casa Amarela também foi sede de acordos e negociações históricas travadas pelo sindicato em prol de trabalhadores junto a grandes companhias como CEEE, Corsan e Trensurb.
Até hoje, a Casa Amarela segue sendo um importante centro de resistência e homenagens para aqueles que moldam e pensam as cidades. Palco de diversos êxitos, a sede do Saergs é o lar dos arquitetos e urbanistas gaúchos. Hoje, a edificação vai receber um evento diferente.
Em plena pandemia, a entrega do tradicional Prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano – evento que homenageia profissionais que trabalham pela profissão e pela sociedade no Rio Grande do Sul – será feita em etapas. Cada premiado terá uma hora marcada para visitar o prédio e receber sua honraria. Na categoria Setor Público, a homenageada será Maria Tereza Fortini Albano; na Setor Privado, Nino Roberto Schleder Machado; como Jovem Arquiteto, Equipe de Reurbanização do Centro de Conde/PE; na categoria Athis, Terezinha de Oliveira Buchebuan, e, como Homenagem Póstuma, Militão de Morais Ricardo. A cerimônia será realizada no pátio, para assegurar o cumprimento das normas e dos protocolos de segurança contra a covid-19.
Mesmo em um ano de trabalho remoto, nada substitui a sede que, há quase 45 anos, simboliza a força da categoria e estampa em azulejos das paredes o lema: construa certo, contrate um arquiteto.